jornal Valor Econômico 25/02/2011 - Fernando Travaglini
O Banco Central (BC) conseguiu seu objetivo de reduzir a velocidade do crescimento do crédito para as pessoas físicas, por meio das medidas macroprudenciais adotadas no fim do ano passado, que elevaram o recolhimento compulsório e o requerimento de capital para linhas de prazos mais longos.
As mudanças, no entanto, provocaram um efeito colateral. Parte da demanda das famílias migrou para linhas mais caras em janeiro. A média diária de concessão de cheque especial avançou 4,7% em janeiro sobre o volume de dezembro, enquanto a média do rotativo de cartão de crédito teve expansão de 13,8%, no mesmo período.
Esse comportamento não foi visto nos primeiros meses dos anos anteriores. Mesmo com o aumento dos gastos de início de ano, com despesas escolares e pagamento de impostos, que exigem muitas vezes uma ajuda de linhas de créditos para completar o orçamento familiar, a procura por empréstimos sempre se diluía entre as linhas emergenciais e as mais baratas, como o consignado.
Neste ano, no entanto, com a restrição para crédito pessoal, fruto da elevação do requerimento de capital para linhas acima de 24 meses, as famílias tiveram que recorrer às modalidades cujos juros superam os 172% ao ano.
A média diária de concessão dos empréstimos para o crédito pessoal e para a compra de veículos recuou 1,7% e 27,2%, respectivamente, em janeiro sobre dezembro. O consignado recuou 19,2% no período.
A elevação do cheque especial e do cartão de crédito, inclusive, compensou em parte a redução das concessões nas outras modalidades. O resultado líquido é que a queda da média diária de concessão para pessoas físicas foi de 0,7% em janeiro (para empréstimos com recursos livres).
Na avaliação do Banco Central, os efeitos das medidas macroprudenciais foram "significativos" em janeiro, de acordo com Túlio Maciel, chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC. Os impactos mais evidentes, no entanto, já devem ter ficado para trás. Os primeiros dados de fevereiro indicam que a retração de janeiro pode não ser repetida.
A média diária de concessão voltou a crescer até o dia 11 deste mês, com avanço de 11,9% sobre o patamar de janeiro, levando-se em conta os créditos com recursos livres (referenciais para as taxas de juros). As linhas para pessoas físicas voltaram a crescer, 3,6% sobre o patamar de janeiro. Para as empresas, a expansão foi maior, de 18,5% no mesmo período.
As taxas de juros também voltaram a cair para os empréstimos as consumo na prévia de fevereiro. Os juros para as pessoas físicas caíram 0,3 ponto percentual. Para as empresas, as taxas bancárias subiram 0,8 ponto percentual. Os spreads, em média, avançaram 0,4 ponto percentual.
Para Maciel, houve uma mudança de patamar "significativa" em janeiro e agora a autoridade monetária espera que as variações sejam menos acentuadas.
"Naturalmente o impacto das medidas macroprudenciais tem um efeito mais efetivo, significativo nos primeiros meses. Houve uma mudança de patamar em janeiro e não se espera uma continuação desse processo."
As variações a partir de agora, segundo Maciel, serão apenas marginais, tanto para os juros, que seguem em elevação, quanto para as concessões, que podem voltar a subir levemente na comparação com o patamar atingido em janeiro. Ele lembrou ainda que a partir de agora entram em ação outros instrumentos de política monetária, mais especificamente o ciclo de alta da Selic, para conter a demanda e tentar trazer a inflação para a meta de 4,5%. "Há outros fatores. Estamos num ciclo de aumento das taxas de juros", disse.
O volume global de crédito do sistema financeiro teve alta de 0,5% em janeiro, para R$ 1,715 trilhão, equivalente a 46,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
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