jornal Valor Econômico 23/02/2011 - Aline Lima
Começa a ser delineada no panorama do sistema bancário nacional uma retomada da trajetória de alta do spread - a diferença entre o custo de captação dos bancos e o juro cobrado do cliente-, após o achatamento verificado em 2010. Bancos de varejo projetam um crescimento das margens financeiras neste ano em ritmo superior à expansão das carteiras de crédito, indicando aumento de juro para o consumidor final.
As captações dos bancos começaram a ficar mais caras em dezembro com o aumento do compulsório sobre os depósitos à vista e maior requerimento de capital para financiamentos de longo prazo a pessoas físicas. Soma-se a isso, no sentido de encarecer o funding e reduzir a oferta de financiamentos em relação a 2010, o ciclo de aperto monetário que se iniciou em janeiro. Tal desempenho mais fraco tende a ser compensado pelos bancos com aumento dos spreads para recompor receitas.
No Bradesco a tendência fica mais clara. O banco estima um aumento da margem financeira de juro entre 18% e 22%, em 2011, ante uma expansão do crédito de 15% a 19%. "Lemos isso como sinal de confiança que maiores spreads irão neutralizar a expansão menor do crédito, assim como no caso de seus pares", afirmam em relatório os analistas Roberto Attuch e Fabio Zagatti, do Barclays.
Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente executivo do Bradesco, já enxerga esse movimento de recomposição de spread nas linhas de financiamento para veículos. "O mercado todo está repondo, o que nos permite fazer isso também", disse, em teleconferência a analistas. O reajuste foi pequeno em dezembro, segundo Abreu. "O banco está gerando novas operações com mais spread, mas isso acaba não se refletindo totalmente no curto prazo. O benefício vai vir mais para frente."
O último relatório de crédito do BC, referente a dezembro, já apontava nessa direção. Naquele mês, o spread geral havia recuado 0,1%, mas no crédito a pessoa física houve aumento de 1,2%.
O Banco do Brasil (BB), que parece mais otimista com o desempenho do crédito em 2011, prevê expansão da carteira entre 17% e 20%, e para a margem financeira bruta, aumento de 16% a 20%. Em 2010, a margem financeira cresceu 9,7% nos doze meses encerrados em dezembro, acompanhando basicamente a expansão da carteira e das aplicações em títulos e valores mobiliários. Mas o spread global caiu, nesse período, de 6,7% para 6,3%. Além das alterações no compulsório, a consolidação do Banco Votorantim, que não possui uma base de depósitos de varejo de baixo custo, limitaram o desempenho. É provável, pelas projeções, que o BB recomponha esse spread.
No Itaú Unibanco, a margem financeira das operações sensíveis a spreads realizadas com clientes atingiu R$ 9,3 bilhões no último trimestre do ano, incremento de 6,2% em relação ao terceiro trimestre. O diretor corporativo de controladoria Rogério Calderon diz que o spread cobrado pelo banco já subiu em algumas linhas em dezembro. "A tesouraria embute de imediato a curva de juro futuro no estoque", explica. "E a velocidade na qual o aumento de custo é repassado ao tomador de crédito é maior do que a de repasse da elevação da taxa de juro, por exemplo, para o depositante."
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