25 de fev. de 2011

CUSTO DOS BANCOS COM REDE E PESSOAL DISPARA EM 2010

jornal Valor Econômico 25/02/2011 - Aline Lima

As ampliações de rede de agências e de equipe de funcionários promovidas pelos bancos ao longo de 2010 não passaram impunemente. As despesas administrativas e de pessoal das instituições financeiras (esta última agravada pelo impacto do dissídio coletivo, em setembro) dispararam no ano passado e a tendência se mantém firme para 2011. Os balanços apresentados pelos cinco maiores bancos de varejo do país mostram que as despesas administrativas cresceram, em média, 14,3% em 2010 na comparação com 2009, e as despesas de pessoal, 9,2%.

No caso das despesas administrativas, normalmente mais pesadas, foi o Itaú Unibanco quem apresentou maior crescimento nesse período: aumento de 21,1%, para R$ 14,038 bilhões. O Bradesco segue de perto, com uma elevação de 20,6%, para R$ 11,194 bilhões. Santander foi o único ponto fora da curva. Apesar de ter aberto 110 agências em 2010, suas despesas administrativas recuaram 0,2% em relação a 2009, desempenho que foi beneficiado pelos ganhos de sinergia provenientes da fusão com o ABN Amro Real.

"Na parte de custo ficamos devendo", reconheceu Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, em teleconferência com analistas. Diferentemente de Bradesco e Banco do Brasil (BB), que investiram em ampliação da rede de atendimento, pesaram nas despesas administrativas do Itaú os gastos com a migração de sistemas e de agências do Unibanco. As despesas de integração, segundo Setubal, vieram 1,2 ponto percentual acima do inicialmente previsto. "Não é uma evolução que me deixa feliz."

Os gastos crescentes pressionaram o índice de eficiência do Itaú Unibanco, que subiu de 47,2% em 2009 para 48,8% em 2010 (quanto menor, melhor). A expectativa de Setubal é reduzir esse indicador para 41% até o fim de 2013. Não há ainda um plano formal para trabalhar a meta, mas um compromisso. O banqueiro ressaltou que os ganhos de escala com a fusão deverão aparecer em 2012. "Tenho a nítida sensação de que dá para melhorar o banco."

Em 2011, a perspectiva é que as despesas administrativas e de pessoal continuem em ascensão - as projeções do banco apontam para uma alta de 10% a 13%. O Itaú Unibanco vai abrir 150 agências no ano - 40 já neste primeiro trimestre -, além de repaginar outras 600 da rede original do Itaú, após ter feito o mesmo nos mil pontos de atendimento que eram do Unibanco, em 2010. A instituição contratou 6,4 mil funcionários em 2010, mas não revelou a expectativa de admissões para este ano.

Se o Itaú lidera a alta de gastos administrativos entre os bancos de varejo, nas despesas com pessoal coube ao Bradesco ocupar a dianteira. Em 2010, elas cresceram 16,8% e alcançaram R$ 9,3 bilhões. Além do forte incremento do quadro de colaboradores e do impacto da incorporação do banco ibi, contribuiu ainda a elevação da participação de administradores nos resultados, em R$ 435 milhões.

O Bradesco inaugurou 174 agências em 2010 e contratou 7,5 mil funcionários. Tanto o aumento das despesas de pessoal como das administrativas também se refletiu na piora do índice de eficiência do banco, que encerrou 2010 em 42,7%, ante os 40,5% de 2009. A expectativa é abrir mais 183 agências neste ano, boa parte no primeiro semestre, e contratar, no mínimo, 1,7 mil funcionários.

As estimativas do Bradesco indicam um aumento das despesas operacionais (administrativas e de pessoal) entre 11% e 15%, em 2011. "O Brasil é nossa prioridade, passa por um momento histórico e não perderemos foco em nosso modelo de negócio", explicou Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, durante a divulgação de resultados de 2010. "Reafirmamos nossa vocação de ser banco de dispersão geográfica."

No Banco do Brasil, apesar de o crescimento das despesas em 2010 ter vindo acima das estimativas de mercado, analistas como Roberto Attuch e Fabio Zagatti, do Barclays, acreditam que o banco "mostrou um melhor controle de gastos em relação a seus pares privados". O crescimento das despesas administrativas no ano passado em relação a 2009 foi de 16,3%, e o das despesas de pessoal, 10%. O BB planeja investir neste ano R$ 1 bilhão na modernização e expansão de sua rede de agências. Está prevista a abertura de 600 agências - sendo 250 num modelo compacto -, além de contratar 6 mil funcionários.

Nem mesmo bancos médios especializados na oferta de crédito a empresas escaparam à tendência generalizada de aumentos de gastos. No BicBanco, por exemplo, as despesas administrativas e de pessoal cresceram 22,5% de 2009 para 2010, atingindo R$ 299,9 milhões. O banco abriu nove agências e contratou 161 funcionários. Neste ano, serão inauguradas outras cinco agências.

O analista Nataniel Cezimbra, do BB, torceu o nariz para o resultado apresentado pelo BicBanco em 2010. "Os indicadores de rentabilidade caíram e a remuneração para o acionista ficou praticamente estável", reclama. "O investidor não gosta disso." Milto Bardini, vice-presidente do BicBanco, explica que os gastos fazem parte de um projeto de crescimento da instituição. "Só se pode desenvolver se os meios são ampliados", justifica. "O ônus vem antes do bônus."

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