jornal Valor Econômico 01/02/2011 - Aline Lima
A forte expansão do crédito impulsionou o resultado do Bradesco em 2010. O banco encerrou o ano passado com lucro líquido de R$ 10,02 bilhões, 25% superior ao de 2009. No quarto trimestre, o lucro apurado foi de R$ 2,99 bilhões, 18,2% maior que no terceiro trimestre. A carteira de crédito, que fechou dezembro com saldo de R$ 274,23 bilhões, apresentou crescimento de 20,2% no período de 12 meses e de 7,3% no trimestre. Com o desempenho, as operações de empréstimos e financiamentos acabaram representando 30% do resultado do Bradesco em 2010, contra 20% em 2009.
Mas as recentes medidas adotadas pelo Banco Central (BC) visando ao maior controle de risco e de liquidez do sistema financeiro devem reduzir o ritmo de crescimento do crédito em 2011. O Bradesco projeta expansão da carteira entre 15% e 19% até o fim do ano. Boa parte dessa alta deverá ser absorvida pelos clientes corporativos, principalmente pequenas e médias empresas (20% a 34%). Em 2010, o segmento já havia sido destaque ao crescer 29,2% e liderar a oferta de financiamentos no banco. O crédito para pessoas físicas avançou 19,5% entre 2009 e 2010 e a estimativa para este ano é de uma elevação de 13% a 17%.
O índice de inadimplência para atrasos superiores a 90 dias manteve a trajetória de queda e atingiu 3,6% no quarto trimestre de 2010. Segundo Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente-executivo do Bradesco, grande parte da melhora no indicador já ocorreu e, daqui para frente, o que se espera é uma estabilização.
Embora o nível de calote tenha sofrido a quinta redução consecutiva, a analista da corretora Ativa Luciana Leocadio ressalta, em relatório, que as despesas com provisões para devedores subiram 11,5% entre setembro e dezembro do ano passado.
Cabe destacar que uma atualização dos parâmetros para cálculo de "arrasto" (jargão de mercado para a classificação de risco que envolve o tomador de mais de um crédito) resultou num abatimento de R$ 220 milhões do lucro líquido do banco.
Em teleconferência com jornalistas, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, informou que serão abertas 183 agências em 2011. O cronograma reflete a estratégia de crescimento orgânico do banco, que no ano passado contemplou a inauguração de 178 agências. Se incluídos os aportes de recursos na nova arquitetura de sistemas de tecnologia da informação do Bradesco, os investimentos em expansão e modernização consumiram R$ 5 bilhões em 2010, 30% a mais que em 2009.
"O Brasil é prioridade e, nesse momento histórico, não perdemos o foco em nosso modelo de negócio, definido pela convergência entre as atividades bancária e de seguros", resumiu Trabuco. Mas a vocação para o varejo não inibiu o desempenho das demais unidades de negócio. "Pelo ranking da Anbima, temos a quarta posição em renda variável e a primeira em renda fixa", comemorou o executivo. As receitas de serviço, que incluem tanto as operações do banco de investimento como a renda com cartão e conta corrente, totalizaram R$ 13,37 bilhões, crescimento de 15,1% em relação ao resultado de 2009.
Os números apresentados pelo Bradesco em 2010 vieram em linha com as estimativas de analistas. Muitos, porém, se mostram preocupados com o aumento das despesas administrativa e com pessoal. "Os gastos superaram as projeções feitas pelo banco para 2010 [crescimento de 9% a 13%], e as projeções para 2011 podem também surpreender negativamente", observou em relatório os analistas Roberto Attuch e Fabio Zagatti, do Barclays. O Bradesco prevê para este ano crescimento entre 11% e 15% das despesas operacionais. Em 2010, esses gastos somaram R$ 17,46 bilhões, expansão de 19,3% em relação a 2009.
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