11 de jan. de 2011

REDE VERDE E AMARELA DO CRÉDITO QUER APOIAR CONSUMIDOR


jornal Diário do Comércio 11/01/2011 - Rejane Tamoto

A primeira empresa de informações de crédito no Brasil formada a partir de capital nacional, a Boa Vista Serviços (BVS), lançada em dezembro, entra no mercado com o desafio de se aproximar ainda mais do consumidor e das empresas, com a oferta de produtos e serviços inovadores e personalizados. Desafio que se torna maior somado à responsabilidade de manter a excelência no padrão de qualidade que sempre marcou o pioneiro dos serviços de informação de crédito no País ao longo de seus mais de 55 anos de história, o Serviço Nacional de Proteção ao Crédito (SCPC).

Fortes investimentos em tecnologia e em capital humano para competir em um mercado onde só existem multinacionais de capital aberto devem ser a marca da Boa Vista para aprimorar o SCPC, o maior banco de dados sobre crédito no Brasil, com informações de mais de 130 milhões de consumidores e empresas. Isso em um cenário de oferta de crédito crescente, com ascensão de milhões de pessoas ao mercado de consumo e rápida evolução tecnológica, que mudaram a cara do varejo brasileiro.

A seguir, o presidente da BVS, Dorival Dourado, fala da evolução do crédito, de como o tradicional SCPC estará preparado para ela, das parcerias com o varejo e o consumidor, novos produtos e, claro, do cadastro positivo. A BVS é formada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em sociedade com o Fundo de Investimentos TMG Capital, o Clube dos Dirigentes Lojistas do Rio de Janeiro, a Associação Comercial do Paraná e o Clube dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, entre outros.

Diário do Comércio – O crédito, que cresceu em ritmo acelerado nos últimos anos, vai parar de crescer? Qual a expectativa para 2011?
Dorival Dourado – Neste ano, a taxa de crescimento do crédito deve reduzir e passar de 20% para cerca de 14%. Até o mercado absorver as regulamentações que visam controlar o consumo e o acesso ao crédito de longo prazo, o País ainda vai passar um bom tempo usufruindo da inércia da economia. A expectativa do varejo é extremamente positiva. O crédito imobiliário está acelerando e deve compensar, em parte, o impacto sobre o crédito direto ao consumidor para automóveis.

O grande desafio para os próximos anos é ajudar o consumidor a se posicionar no mercado, a programar sua vida financeira.
DC – Qual a perspectiva de crescimento do crédito para a pessoas física e jurídica?
DD – Enquanto o governo define regras para conter o crescimento do consumo e do crédito à pessoa física, cria incentivos para que a indústria possa se reaparelhar, expandir seus negócios, se internacionalizar, e atingir um nível de capilaridade maior no interior do Brasil. É uma compensação e, talvez, o valor final do crescimento do crédito, estimado em 14%, seja bastante significativo, com reflexos diferentes entre pessoas física e jurídica.

DC – Qual é a tendência para a pessoa física?
DD – A pessoa física passa por uma mudança de comportamento, e a tendência é de crescimento. Mesmo com regras mais restritivas para o uso do cartão, por exemplo, a previsão do mercado é de aumento de 30% nas emissões de plásticos, entre crédito e débito. Ao realizar pagamentos pelos meios eletrônicos, o consumidor muda o hábito de fazer a gestão do seu fluxo de caixa, e de controlar a inadimplência.

DC – Qual é o desafio dos birôs de crédito nesse sentido?
DD – O grande desafio para os próximos anos é ajudar o consumidor a se posicionar no mercado, a programar sua vida financeira, a entender o impacto da decisão de fazer um empréstimo, a relação entre salário e dívida,  a importância dos juros e do financiamento, para ter um desempenho positivo e satisfatório no mercado.

DC – Este é um trabalho desenvolvido pelo Movimento de Apoio ao Consumidor (MAC). Ele será intensificado pela Boa Vista Serviços?
DD – Sim, sem dúvida. O objetivo é aportar mais conhecimento e informação para se aproximar das entidades de defesa do consumidor. É nosso interesse preservar a proteção ao consumidor. Vamos fazer um trabalho de conscientização para que a sociedade tenha algum tipo de voz nesse processo. O evento Acertando suas Contas é um exemplo nessa área e deve crescer em 2011. Ao viabilizar o trabalho educacional, há maior motivação para o consumo.

DC – O cadastro positivo é uma evolução natural dos cadastros negativos?
DD – Não, porque a lógica de decisão é inversa. A empresa não vai mais analisar se um determinado consumidor tem condições de receber mais crédito simplesmente porque não tem negativação.  A lógica é diferente.

DC –  E qual é essa lógica?
DD – A capacidade de uma pessoa de administrar sua vida creditícia está mais ligada ao comportamento no dia a dia, na pontualidade nos pagamentos e em características de consumo. No cadastro positivo é possível, por meio de modelos estatísticos, estimar a capacidade de consumo de uma residência a partir da despesa com energia elétrica, por exemplo. Ele considera ainda outros componentes que, estatisticamente, fornecem a probabilidade de um consumidor com mais acesso ao crédito de honrar os pagamentos. Essa avaliação não depende só da taxa de consumo, renda e saldo bancário. É um banco de dados com informações, no qual é possível verificar se o acesso ao crédito faz sentido dentro do hábito de consumo e do comportamento de alguém.

DC – As entidades de proteção ao consumidor dizem que o cadastro positivo estimula a invasão da privacidade. Qual a sua opinião a respeito?
DD – Não é invasão de privacidade, é autorizado pelo consumidor, como ocorre nos países de primeiro mundo. O cidadão utiliza o cadastro para fazer uma negociação. No Brasil, para que isso ocorra, ainda é preciso uma curva de aprendizado da sociedade.

DC – O consumidor brasileiro tem maturidade para usar o cadastro positivo?
DD –  A sociedade tem de aprender em conjunto a se beneficiar desse modelo de operação. O cadastro positivo não é uma virada de chave. É uma curva de aprendizado que pode levar cinco anos ou mais e envolve o consumidor, o varejo, bancos, financeiras, administradoras de cartões e birôs de informação. É um ecossistema que tem de se equilibrar para fazer um uso inteligente do modelo. Antes disso, é importante o marco regulatório.

DC – O bom uso desse cadastro depende de tecnologia?
DD – Uma coisa é ter a tecnologia que permita o cadastro e outra é a sociedade saber usar as informações. No final da equação tem de existir benefícios como a redução de juros, melhor decisão de concessão de crédito, redução de inadimplência e de fraudes. Se não, o trabalho não foi bem-feito. Eu posso fornecer tecnologia para um cliente com base no cadastro positivo. Mas, se desde a fundação da empresa ele trabalha com a lógica do negativo, terá de reposicionar todo o modelo de negócio. E isso não é feito da noite para o dia. Portanto, não é uma questão só de tecnologia.

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