jornal Diário Catarinense 18/12/2010 - Felipe Pereira
Quando a cliente disser que gostou da canga, mas que está sem dinheiro e passará outra hora, os vendedores de praia de Balneário Camboriú poderão responder que aceitam cartão de crédito ou débito. Eles se prepararam para a temporada. Alugaram a maquininha que aceita todos os tipos de "bandeiras". A novidade deve pintar nas areias nos próximos dias e a expectativa é que aumentem os negócios.
Os ambulantes estão apostando no equipamento. Acreditam que o crescimento vai pagar com sobra o aluguel e a comissão da operadora.
Mas em meio a este povo confiante existe quem se preocupe. Dona Evanira Ribeira Portella tem 66 anos e passou as últimas 17 temporadas carregando cangas de uma ponta à outra da praia. Ela está com muito medo de não aprender a usar a máquina e ser ignorada pelos turistas. Explica que não tem muito estudo e para conseguir lidar com a calculadora foi um parto.
— Até reconheço os números, mas estou sem muita fé.
O genro, que também vende canga em Balneário Camboriú, tenta acalmá-la. Tarefa inglória. Com um copo de plástico cheio de refrigerante de limão na mão, dona Evanira balança a cabeça indicando que não se convenceu. Conta que está no ramo faz tempo, tem os 17 carnês da prefeitura para trabalhar como autônoma guardados em casa. Agora, teme ficar sem emprego.
O dinheiro que consegue no verão faz diferença para família. O marido ganha apenas um salário de aposentadoria. Não fosse o trabalho dela nas areias na última temporada a família não teria conseguido pagar uma cirurgia que um filho, que mora no Paraná, precisou fazer neste ano.
Não que dona Evanira tenha imenso prazer em vender cangas. Ela diz que já está velha para isso e as costas reclamam bastante ao final do dia. Mas a idade também atrapalha na hora de conseguir emprego no mercado formal. Nesta sinuca de bico, se submete a atravessar a praia diariamente com um varal de cerca de 40 quilos apoiado nos ombros.
Entre a mercadoria não pode faltar cangas com a bandeira do Brasil e as que simulam várias fitas do Senhor do Bonfim. As preferidas da cliente, ressalta.
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