jornal DCI 22/12/2010 - Flávia Milhassi
Com expectativa de que o Banco Central (BC) e o Conselho Monetário Nacional (CMN) promovam mais mudanças na concessão de crédito e na economia brasileira para conter a inflação em 2011 e atingir o avanço esperado de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, apresentou ontem, pesquisa promovida pela instituição que mostra as expectativas do mercado financeiro para os próximos anos.
Segundo o especialista, ainda não é possível prever quais serão as consequências das mudanças promovidas pelo BC e pelo CMN - que elevaram a exigência de depósito compulsório dos bancos sobre os depósitos à vista e a prazo - mas, não se pode negar que a economia terá um recuo em 2011 e 2012.
"Nossa expectativa é de um crescimento de 4,5%, que vai de encontro ao que o mercado antecipou anteriormente. Mas, mesmo com as medidas de restrição ao crédito, uma política monetária mais austera para 2011 e expectativa de que ao longo do ano a taxa básica de juro [Selic] aumente em comparação com 2010, a economia terá um crescimento positivo", enfatiza.
O especialista acredita também que, caso o governo não consiga conter o crédito nos próximos dois anos, o mercado terá novas mudanças. "Não acho algo adequado, mas se não houver um recuo no crédito, o Banco Central terá que adotar novas normas, restringir outras operações e tornar o acesso ao crédito mais difícil. Mesmo assim, isso nem sempre é feito de forma transparente. Porém, trará mais resultados que o aumento da taxa de juros". Na última coletiva do ano da Febraban, Sardenberg que anteriormente havia falado que as medidas macroprudencias, termo esse utilizado por Henrique Meirelles para frear o crédito no Brasil e retirar do mercado R$ 61 bilhões, feitas pelo governo elevariam o spread bruto dos bancos, quando questionado novamente sobre esse aumento, afirmou que ainda não há como medir o real impacto no spread bancário, mas que qualitativamente está em curso um possível encarecimento do crédito, para suprir os custos maiores na captação e empréstimos feitos pelas instituições financeiras. "É natural que isso aconteça com o aumento dos compulsórios, que eleva a alocação de capital das operações e o que resulta em um aumento das taxas ativas e dos spreads. Mas vamos observar isso nas próximas projeções", explica.
Outra medida do Banco Central na tentativa de desafogar os empréstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), facilita a captação de recursos com a contratação de debêntures e é uma boa opção aos investidores brasileiros, como explica o economista da Febraban. "Essas medidas farão com que o mercado de médio e longo prazo sejam mais atraentes no país. As isenções vão incentivar os investidores estrangeiros, o que trará um estímulo ao mercado de financiamentos mais longos", comenta Sardenberg.
Anteriormente o setor de crédito projetava um crescimento de 18,5% para 2011, mas após a adoção das novas medidas que estão em vigor há duas semanas, a expectativa do setor é que esse crescimento caia para 17,8% no próximo ano e em 2012 fique em 17,2%, aponta a pesquisa.
O economista-chefe da Febraban, ressalta três pontos sobre as projeções no setor de crédito para os próximos dois anos. "Houve redução nas expectativas de crescimento, elas são moderada, mas significativas. O mercado sabe que vai crescer menos, terá um recuo moderado, mas é cedo pra que se possa avaliar a extensão disso, esses números refletem isso, uma dificuldade para estabelecer o real recuo das taxas de crescimento", explica.
Ainda segundo a pesquisa realizada entre os dias 16 e 20 deste mês, com 28 instituições, o setor industrial que teve boa recuperação no ano, após a recessão promovida pela crise mundial, nos próximos anos terá bom desempenho mesmo com a previsão de um recuo, o setor poderá ter crescimento de 5,3% no próximo ano.
Para Rubens Sardenberg, os reflexos das políticas monetárias terão impacto maior às pessoas físicas. "O recuo maior será para a pessoa física, pois as medidas do BC são focadas nesse público. Com base em conversas e expectativas de mercado será percebido um melhor desempenho para pessoa jurídica. As pequenas e médias empresas poderão crescer mais em 2011."
Para a Febraban, em 2011 o real ficará mais valorizado frente ao dólar. A previsão é de que em 2011 e 2012 a moeda estrangeira fique cotada a R$ 1,80, patamar pouco diferente ao esperado para o final deste ano, que é R$ 1,75.
O mercado financeiro espera que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) seja empregado um aumento de gradual da taxa Selic e que no próximo ano fique em 11,25%. Para 2012, o especialista da Febraban e o mercado esperam um aumento de um ponto percentual e que a taxa de juros fique em 12,25%. Esse índice será reflexo da pressão inflacionária como comenta Sardenberg e completa, "em relação ao ano de 2010, esse aumento seria de 150 pontos básicos frente aos 10,75% do atual patamar brasileiro".
Outro fator que gera muitas incertezas ao mercado financeiro é a indefinição das políticas monetárias que serão adotadas pela nova equipe econômica da presidente eleita Dilma Rousseff. A expectativa do setor é de que elas sejam mais austeras, e que mesmo com as restrições, o Brasil tenha um bom desempenho nos próximos dois anos.
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