9 de ago. de 2011

ALTA COMPETIÇÃO PREJUDICA LUCRO DOS BANCOS MÉDIOS

jornal DCI 05/08/2011 – Marcelle Gutierrez

O sistema bancário nacional tem como destaque os quatro bancos de maior lucratividade e número de clientes (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander) e o atual cenário deve permanecer estável nos próximos meses. Para analistas entrevistados pelo DCI, a expectativa é de desaceleração do crescimento dos bancos médios no primeiro semestre de 2011, em consequência ao alto custo na captação de recursos e gradativa competitividade no consignado e middle market (pequenas e médias empresas). Apesar das dificuldades, o negócio continua a ser rentável para investidores, principalmente nas ações do BicBanco, Banrisul e ABC Brasil, indicaram analistas de corretoras.

No primeiro trimestre de 2011, o BicBanco apresentou lucro líquido de R$ 81,9 milhões, com crescimento da carteira de crédito em 33,1% em 12 meses, de R$ 10,601 bilhões para R$ 14,113 bilhões. A captação doméstica impulsionou o resultado, com R$ 9,612 bilhões ao final de março, alta de 35,9% ante o mesmo período de 2010. No exterior elevou 26,9%, para R$ 4,446 bilhões.

O Banrisul teve lucro líquido de R$ 211,3 milhões nos três primeiros meses do ano, acréscimo de 73,4% sobre mesmo período anterior. Na capitalização, o banco manteve a estratégia de funding diversificado, em depósito à prazo, poupança e depósito à vista, no total de recursos captados e administrados de R$ 25,2 bilhões.

A aposta do ABC Brasil (Arab Banking Corporation) estava na diversificação dos produtos financeiros para a conquista de mercado e clientes. Como consequência dessa estratégia, o banco obteve lucro líquido de R$ 56,7 milhões no primeiro trimestre de 2011, aumento de 20,8% em relação ao mesmo período do ano passado e de 5% em comparação aos últimos meses de 2010.

O Daycoval foi o único banco a já divulgar os resultados do primeiro semestre. O lucro líquido chegou a R$ 75,2 milhões no segundo trimestre, alta de 17,1% em igual período de 2010, e de 72,9% em relação ao primeiro trimestre de 2011, quando totalizou lucro de R$ 43,5 milhões, queda de 20,3% por conta do valor líquido negativo de marcação a mercado de hedge e da queda no preço das ações em operações de swap.

A recuperação três meses após o primeiro balanço, segundo informativo, está relacionada "ao bom resultado do trimestre principalmente ao forte crescimento da receita das operações de crédito, que vem evoluindo com o aumento da carteira e redução nas despesas com provisão".

Segundo Celso Grisi, diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e professor da FEA/USP, o desempenho no primeiro semestre do ano para os bancos médios será mais difícil por conta da composição de funding mais cara, com a preferência do investidor pelos grandes bancos. "Captam mais caro do que os grandes e têm que cobrar mais caro. No entanto, é impossível repassar para o spread, já que houve aumento de competitividade com a entrada dos grandes em certos segmentos. Então cai a lucratividade".

O analista da Planner Corretora, Francisco Kops, concorda que o risco, de maneira geral, está na busca por recursos. Mas sinaliza que a análise do investidor deve ser realizada de maneira diferenciada, já que cada banco atua em um nicho. "Alguns focados no consignado, como o Cruzeiro do Sul e Paraná Banco, captavam recursos com a venda de carteiras. Desde a fraude do PanAmericano, as instituições que realizavam a compra ficaram mais receosas e aprenderam a fazer o consignado com rede própria".

A recente competição com os grandes bancos em segmentos antes explorados somente pelos médios também é um dos fatores causadores da desaceleração no crescimento, na opinião de Marco Saravalle, analista da Coin Valores. "A taxa de rentabilidade terá sinais de baixa, impactada pela competição com os grandes bancos nos segmentos de consignado e middle market".

No que se refere ao efeito negativo da fraude de R$ 4,3 bilhões do PanAmericano no mercado, os analistas da Planner e Coin Valores concordam que ainda afeta a decisão dos investidores, que possuem aversão ao risco.

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