1 de dez. de 2010

WESTERN UNION APOSTA EM REMESSA LOCAL DE DINHEIRO

jornal Valor Econômico 01/12/2010 - Aline Lima

No filme "De volta para o futuro 2", o cientista Doc Brown, interpretado por Christopher Lloyd, e seu pupilo Marty McFly, personagem vivido por Michael J. Fox, são salvos de uma enrascada por obra de um simples telegrama. A tal carta continha as instruções para o conserto da máquina do tempo que transportou acidentalmente Doc Brown para 1885, enquanto Marty McFly estava preso no ano de 1955. O hiato sugere que o telegrama foi guardado ao longo de 70 anos para só então ser entregue ao remetente. Coube à Western Union , empresa americana na época símbolo de comunicação, a realização dessa proeza.

Mas o futuro anunciado pelo filme chegou e o e-mail sepultou, em 2006, o último telegrama enviado pela Western Union. A transferência de dinheiro, atividade iniciada pela empresa em 1871 no rastro da expansão do Oeste americano, consolidou-se, assim, como seu principal negócio. Para manter a longevidade depois de um século e meio de existência, a Western Union agora quer ampliar os serviços de pagamento em mercados emergentes, especialmente o brasileiro. "Nossa jornada aqui está apenas começando", avisa o austríaco Hikmet Ersek, presidente mundial da Western Union, em entrevista exclusiva ao Valor. "Em cinco anos, o objetivo é fazer do Brasil uma das 15 operações mais importantes para o grupo."

Em setembro, a empresa recebeu autorização do Banco Central (BC) para funcionar como banco comercial e corretora, um investimento inicial de R$ 54 milhões. A Western Union está presente no país desde 1997, porém com uma atuação tímida, limitada, basicamente, à internalização de dinheiro de brasileiros residentes no exterior. A licença para operar como banco não significa que a Western Union vá competir no concorrido varejo financeiro brasileiro, oferecendo crédito ou produtos de investimento. O objetivo é tão somente "transportar" recursos internamente, por meio de ordens de pagamento para depósitos e saques - daí a necessidade de constituição de um banco.

"Somos um banco com propósito especial", esclarece Ersek. As dimensões continentais do Brasil justificam, segundo ele, a nova estratégia de negócio que está sendo adotada pela Western Union. A ideia é expandir a atuação em localidades distantes e rurais. A empresa americana conta, atualmente, com seis mil pontos de atendimento no país. O serviço é prestado por meio de agentes credenciados, sendo o Banco do Brasil (BB) o principal e mais antigo parceiro. Recentemente, outro parceiro de peso entrou para o rol: Bradesco. Há uma semana começaram os testes em uma dezena de agências da instituição.

A expectativa de Ersek é dobrar a atual rede de seis mil pontos de atendimento da Western Union no país até o fim de 2011. Bancos regionais estão no radar. "Nos Estados Unidos, onde a população é de 300 milhões de pessoas, temos 50 mil pontos", compara ele. Nos 200 países em que a empresa atua, a rede chega a 450 mil unidades. Vale lembrar que, nos últimos seis anos, a Western Union experimentou uma rápido crescimento de sua base de distribuição - em 2004, eram apenas 160 mil estabelecimentos parceiros. "Por aí já é possível ter uma ideia da nossa capacidade de expansão", diz o executivo. A Western Union tem planos de abrir algumas lojas próprias no Brasil, em grandes centros urbanos e locais com bastante movimento. Mas o objetivo é apenas reforçar a centenária logomarca amarela e preta, por aqui pouco conhecida. A empresa, tradicionalmente, atua por meio de agentes.

Se até agora o foco das operações brasileiras da Western Union estava nos imigrantes que remetem religiosamente suas economias para familiares que aqui permaneceram, o principal alvo, daqui para frente, passa a ser a população residente, porém ainda à margem do sistema bancário. "É uma oportunidade e tanta para conquistarmos novos clientes, especialmente nas economias emergentes." O caminho inverso também é válido - remessas daqui para fora feitas, no caso, por empresas de pequeno e médio portes também fazem parte da proposta de atuação local da Western Union. Ambos os mercados movimentam, por ano, cerca de US$ 7 bilhões.

Dentre os serviços financeiros que serão oferecidos a pessoas sem conta corrente estão previstos, além da remessa de recursos, cartões pré-pagos - que, a exemplo do celular, precisam ser carregados antes de usar e não têm fatura. "Estamos testando esse produto há nove meses nos Estados Unidos e já alcançamos 650 mil cartões, com um total de US$ 240 milhões aportados", conta Ersek. "Será um produto complementar ao nosso portfólio." O uso do celular como meio de pagamento, serviço já oferecido no Quênia, por exemplo, é também uma das propostas em estudo para o mercado local. "Esse vai ser o futuro", sinaliza.

A Western Union é a maior empresa mundial de remessas internacionais de dinheiro entre pessoas físicas, com 17% de participação de mercado. Neste ano, até setembro, obteve lucro líquido de US$ 667 milhões e receita de US$ 3,8 bilhões.

Nenhum comentário: