3 de ago. de 2011

CARTÃO COM CHIP CHEGA AOS EUA

jornal Brasil Econômico 03/08/2011 – Flavia Furlan

Referência mundial em tecnologia, os Estados Unidos estão atrás do mundo inteiro em um assunto em especial: a adoção de chips em cartões, processo iniciado no Brasil em 1996, quando as bandeiras resolveram dar o primeiro passo na migração de tarja magnética para os chips. A disseminação de fato dos cartões com chip no país se deu há cerca de três anos — os americanos, por sua vez, só começaram a se despertar para o assunto no último ano.

Em abril, o banco Chase passou a oferecê-los para um seleto grupo de clientes. Na mudança, ressaltou que o microchip torna o cartão extremamente difícil de ser copiado porque permite o processamento e armazenamento seguro de dados. Já o Wells Fargo está preocupado com a aceitação de plásticos locais nos mais de 100 países que já usam sistema de chips. Em junho, a instituição financeira adotou um projeto-piloto com 15 mil consumidores que viajam ao exterior.

“Muitos países no mundo adotaram os cartões baseados em chips, o que tem sido problemático para os consumidores que viajam para o exterior e não podem usar seus cartões”, afirma o vice-presidente de desenvolvimento de produtos do Wells Fargo, Eric Schindewolf.

Para a superintendente de portfólio da Credicard, Simone Katz, outro motivos para a migração agora é o controle de fraudes. Ela explica que o mercado de cartões americano costumava ser mais protegido por conta de o país não fazer divisa com tantos outros, como acontece na Europa, por exemplo, em que o contágio dos golpes ocorre mais rápido. “Pegar a informação da tarja e replicar não era tão comum nos Estados Unidos, quando comparado aos mercados asiático ou latino. Era algo como quatro vezes maior fora dos EUA”, explica.

Entretanto, a preocupação com fraudes ganhou espaço no mercado americano com a crise de 2008, quando as margens começaram a cair, e então a adoção do chip ganhou atenção. Este foi um dos principais objetivos da migração no Brasil. De acordo com a Visa, que atingiu neste mês 100 milhões de cartões chipados no mercado brasileiro, uma das consequências da adoção da tecnologia no país foi a redução de fraudes. Em1990, a cada US$ 100 faturados pela indústria de cartões, US$ 0,18 eram perdidos com golpes. Já em 2011, o valor caiu para US$ 0,05.

Instituições financeiras que já trabalham com chip no Brasil também estão dando início à migração de sua base de plásticos também nos EUA — caso no Citi, que começou a troca este ano. No Brasil, até o fim do ano, metade dos 7 milhões de cartões do banco será chipado.

Para o vice-presidente de segurança nas transações da fabricante de cartões francesa Gemalto, Jack Jania, os bancos americanos reconheceram que estavam perdendo potencial com seus cartões não sendo aceitos no exterior—para se ter uma ideia, na Europa, existe uma discussão para que se acabe com a tarja magnética.

Mas o que falta entre os americanos, para o presidente da fabricante de cartões brasileira IntelCav, Fernando Castejon Ferreira, é a presença de um conselho articulando todas as decisões. “Não há uma coordenação para implementação do padrão global usado para aceitação de chips”, diz o executivo.

Disputa será acirrada entre fabricantes

Quem está de olho na migração para a tecnologia de chips nos Estados Unidos são as fabricantes de cartões de todo o mundo, inclusive as brasileiras. A IntelCav, que tem produção exclusivamente nacional, já está articulando com os agentes do mercado americano para poder exportar cartões com chip para o país.

A empresa importa o chip e faz a montagem dos plásticos em suas fábricas aqui no Brasil. Sua capacidade de produção é de mais de 20 milhões de cartões por mês, de todas as modalidades, sendo que a maioria é destinada a bancos, varejo e transporte público. Depois de montar o plástico, ele é enviado diretamente ao portador. Quando exportado, a empresa trabalha com parceiros para o envio dos cartões aos seus proprietários.

“Uma das nossas estratégias de crescimento é o mercado americano”, diz o diretor-presidente da IntelCav Fernando Castejon Ferreira. Não à toa. Os Estados Unidos devem chegar a um volume de 1,86 bilhão de cartões, entre crédito e débito, ao final deste ano, segundo dados oficiais. O volume é mais de quatro vezes superior ao esperado para o mercado brasileiro, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

Gigante do mercado de cartões, os EUA também despertam interesse dos produtores europeus. “A concorrência internacional é muito forte”, diz Ferreira, que diz que usará a qualidade dos plásticos da IntelCav para conquistar os americanos.

A francesa Gemalto, que tem 800 milhões de pessoas ao redor do mundo usando seus cartões com chip, é uma das empresas na concorrência pelo mercado americano, sendo a primeira a introduzir a tecnologia com chip no país, em uma parceria com a Federação Nacional de Crédito (UNFCU), em Nova York, em 2010.

A empresa já anunciou parceria também com o Silicon Valley Bank. “A Gemalto já tem uma relação forte com bancos e emissores de cartões dos Estados Unidos e no exterior”, diz o vice-presidente de segurança em transações, Jack Jania. “Outras empresas vão certamente tentar fornecer soluções assim que esses consumidores (varejo, bancos e emissores) começarem a demandar a tecnologia”, diz. A companhia, no entanto, acredita que está à frente por ter uma equipe técnica para promover a migração da tarja para os chips no país.

Para exportar cartões para os Estados Unidos, as empresas só precisam se preocupar com a adaptação às exigências dos parceiros. Não existe nenhuma regulamentação para o assunto. Jania diz que a migração tem sido direcionada por legislação em vários países. No entanto, o Canadá é um exemplo de que se pode fazê-la sem ser uma diretriz do governo.

Nenhum comentário: