30 de mai. de 2011

TURISTAS EM BUSCA DE MAIS SOSSEGO

revista Valor Financeiro Maio 2011 – Anamárcia Vainsencher
A renda do brasileiro aumentou, as classes de menor poder aquisitivo passaram a viajar, o turismo vai de vento em popa e o seguro-viagem se tornou um filão de negócios rentável. No grupo Bradesco Seguros a emissão de novas apólices de seguro-viagem, no primeiro trimestre de 2011, cresceu 28% em relação ao mesmo período de 2010, segundo Eugênio Velasques, diretor do grupo. E o faturamento de novas vendas experimentou expansão de 16%. A SulAmérica, por sua vez, constatou que o turismo "é uma galinha dos ovos de ouro", com expansão de mais de 150% no período janeiro/agosto de 2010, em comparação com igual período do ano anterior. Resultado que, naturalmente, se refletiu em pesquisa feita em amostra de sua própria base de clientes. O trabalho apontou que 90% dos que viajaram repetiriam a experiência. E entre esses as duas maiores preocupações são acidentes e doenças e despesas médicas, ressalta Carolina de Molla, diretora técnica de vida e previdência da seguradora. O produto SulAmérica foi lançado em outubro de 2010.

No mercado doméstico, o seguro-viagem não é obrigatório, e é praticamente desconhecido. Muito diferente do que ocorre em 15 países da União Europeia (UE), segundo determina o Tratado de Schengen. Trata-se de uma garantia exigida em 15 países da Europa pela qual os turistas são obrigados a adquirir uma assistência à viagem no valor mínimo de 30 mil euros para ingresso em suas fronteiras, como explica Rosana Techima Salsano, diretora de vida da Caixa Seguros. A empresa lançou recentemente o MundiSegur que, a exemplo dos produtos similares, cobre viagens domésticas e internacionais. "O crescimento econômico do Brasil e os grandes eventos esportivos que o país sediará na próxima década ajudarão a duplicar, até o ano 2020, o número de turistas estrangeiros", argumenta a executiva.

Durante a Copa de 2014, 3 milhões de brasileiros vão se deslocar de suas cidades, emenda Francisco Toledo, diretor da linha de seguros pessoais da Chubb. Para a executiva da Caixa, com o aumento da demanda por viagens cresce também a demanda por produtos que garantem a proteção dos viajantes. Ela ilustra: entre 2009 e 2010, a carteira de seguro turístico apresentou salto de mais de 140%. Ainda de acordo com Rosana Techima, paralelamente ao aumento do número de viagens, preocupações com eventuais problemas durante o período de ausência, seja em casa, seja durante a viagem, podem ser minimizadas com as diversas soluções oferecidas pelo mercado de seguros.

"O aumento da demanda tem feito com que as seguradoras invistam cada vez mais nesse mercado", afirma. Na opinião de Velasques, do Bradesco, "o seguro-viagem é um misto de necessidade, comodidade e conveniência". Diante de imprevistos de toda ordem, de dificuldades com o idioma e com fuso horário, o seguro-viagem representa uma tranquilidade. "Dor de dente só dá à noite", comenta. E o seguro-viagem é ainda mais importante para uma base empresarial como a brasileira, que cresce demais. "Os voos vivem lotados", observa.

As coberturas feitas pelo seguro-viagem não diferem muito entre as empresas. Em geral, os benefícios incluem, entre outros, regresso por sinistro no domicílio, convalescença em hotel, acompanhamento familiar, acompanhamento de menores ou de idosos, repatriação funerária, assistência jurídica por acidente de trânsito no exterior, adiantamento de fiança, localização e encaminhamento de bagagem e os habituais relativos a cancelamento ou atraso de voo. O MundiSegur oferece compensação por demora na localização de bagagem, adiantamento de fundos, transmissão de mensagens urgentes. E seu limite de idade para aceitação vai até 80 anos.

Quanto aos preços, esses, sim, variam conforme se trate ou não de um produto top de linha, do período contratado e, óbvio, de ser uma viagem doméstica ou internacional. Por exemplo, a modalidade Diamond do Itaú Unibanco oferece US$ 100 mil em assistência médica, diz a gerente de produto, Fabiana Telles. Os canais de vendas também são diversos. Via web, o cliente Bradesco também tem a opção de comprar passagens aéreas e seguro no portal da Livraria Saraiva.

No Itaú Unibanco, hoje, são as agências bancárias. O canal internet está em desenvolvimento e deve entrar no ar ainda neste ano. Na Chubb, o produto viagem é antigo. Nova será sua forma de comercialização, relata Francisco Toledo. "Vamos ter uma política comercial mais agressiva a partir de junho, trabalhando sobre nossa base de mais de 1,5 mil empresas seguradas", informa o executivo. Mais: a contratação do seguro-viagem poderá ser feita via internet, e o segurado poderá imprimir seu próprio contrato na hora. "Mas o pagamento não é na hora, é só no final do mês", brinca Toledo. Um atrativo da SulAmérica, destacado por Carolina de Molla, é que compradores do seguro-viagem concorrem a sorteio de R$ 5 mil pela Loteria Federal. Os canais preferenciais da companhia são o corretor (aliás, elo indispensável em qualquer ramo do seguro) e as agências de viagens.

Enquanto a diretora da SulAmérica avisa o futuro segurado de que deve "olhar as entrelinhas do que vai assinar", a gerente de produto do Itaú Unibanco chama a atenção para o fato de que a maioria dos atendimentos no segmento é feita pelo produto assistência, não pelo seguro propriamente. Na assistência, explica Fabiana Telles, o viajante precisa ligar para uma central de atendimento no Brasil para ter direito a usar um hospital ou para recorrer a um médico.

O seguro Itaú Unibanco também tem assistência e reembolso. "A primeira opção é ligar e solicitar o hospital ou o médico mais próximo. A segunda é procurar o atendimento mais próximo, pagar e pedir reembolso na volta", explica. É por essas e outras que o Bradesco Seguros adquiriu 50% da Europe Assistance, empresa de capital franco-português. "O Bradesco domina o chassi assistência na Europa, graças a sua especialização", diz Eugênio Velasques. E de seu lado as seguradoras informam que suas relações com as operadoras de turismo é boa. Quanto ao fator concorrência, mesmo que seja expressiva a oferta do produto viagem, Eugênio Velasques acredita que o mercado deveria ser mais competitivo do que é.

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