30 de mai. de 2011

CARONA NO CRÉDITO AO CONSUMIDOR

revista Valor Financeiro Maio 2011 – Paulo Fortuna

O mercado de seguros de vida e acidentes pessoais no Brasil vem evidenciando nos primeiros meses de 2011 a mesma vitalidade que demonstrou no ano passado, com resultados impulsionados principalmente com o aumento de renda nas classes C e D, que incorporaram esses produtos às suas prioridades de consumo. Outro grande fator de incentivo foi o seguro chamado de prestamista, que tem o objetivo de permitir a quitação das prestações de bens adquiridos pelo segurado em caso de morte e invalidez. Essa modalidade de seguro pegou carona na expansão dos financiamentos a compras a prazo e continua a fazê-lo, mesmo após as medidas tomadas pelo governo para contenção do crédito bancário.

Os dados mais recentes da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) revelam que o mercado de seguros voltados para pessoas - que engloba seguros vida individual e em grupo, acidentes pessoais, proteção financeira, seguros educacionais, entre outros produtos - movimentou R$ 1,4 bilhão em prêmios em fevereiro deste ano, um crescimento de 20,35% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os seguros de acidentes pessoais lideraram o crescimento no período, com prêmios de R$ 337,6 milhões, resultado 55,76% superior aos R$ 216,7 milhões registrados em fevereiro de 2010. O setor prestamista movimentou R$ 352,8 milhões em prêmios, acusando um crescimento de 39,46%.

Na avaliação de Renato Russo, vice-presidente da FenaPrevi, mesmo que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja mais modesto em 2011 do que no ano passado, ainda há espaço para o setor continuar a crescer em volumes elevados, principalmente por conta do aumento de renda e da contratação de maior número de trabalhadores com carteira assinada. "O seguro de vida, hoje bem mais conhecido, passou a ser prioridade para quem teve um aumento real de renda e começou a se preocupar em preservar o padrão de vida da família. Além disso, a formalização do mercado de trabalho aumenta a base de segurados, já que muitas empresas passaram a oferecer esse benefício, até por conta dos acordos coletivos de diversas categorias profissionais", afirma Russo.

O presidente da FenaPrevi destaca que as maiores taxas de crescimento das operações de crédito ocorreram justamente nas classes de renda média, o que também deve continuar a estimular as vendas de seguros-prestamista neste ano. Em seu entendimento, as medidas macroprudenciais tomadas pelo governo para conter o crédito devem ter pouco impacto sobre o setor.

O crescimento do segmento no Brasil trouxe poucas mudanças em relação à participação relevante dos grandes bancos no volume total de negócios. De acordo com os dados da FenaPrevi de fevereiro, o Bradesco ocupa o primeiro lugar desse mercado, com 15,77%, seguido por Itaú (13,36%) e Santander (11,87%).

O presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio de Oliveira, acredita que o momento atual da economia brasileira é altamente favorável para a instituição financeira. "Num cenário de crescimento de emprego e renda, o Bradesco leva uma grande vantagem por causa de sua vocação histórica para atuar no varejo", diz ele.
Oliveira também destaca que a capilaridade das agências do banco ainda é um fator decisivo nas vendas dos produtos. "As agências bancárias ainda são os grandes canais de venda de seguros", ressalta o executivo.

Ele ressalta que, no caso dos planos coletivos, a tendência é que cada vez mais empresas incorporem os seguros de vida entre os benefícios oferecidos aos empregados. "Em um momento de quase pleno emprego, essa é uma estratégia de retenção de mão de obra qualificada", diz Oliveira.

Executivos de seguradoras não ligadas a bancos admitem que essas instituições financeiras conseguem dominar boa parte do mercado por força dos seus canais de venda, principalmente as agências. Mas essas companhias estão desenvolvendo estratégias para ganhar mais espaço no setor.

A Icatu Seguros, por exemplo, aposta em parcerias para chegar aos clientes, como as vendas de seguro por telefone em conjunto com uma operadora de cartão de crédito. "Vendemos 40 mil seguros de vida individuais utilizando esse canal", conta o diretor de produtos de varejo da Icatu Seguros, Gustavo Germano. A Icatu também acertou parcerias com instituições financeiras que não atuam diretamente na área de seguros, utilizando seus pontos de venda.

A Liberty Seguros, controlada pelo grupo americano Liberty Mutual, desenvolve um trabalho de treinamento contínuo com os corretores de seguros, numa estratégia para oferecer soluções diferenciadas aos clientes. "Nosso objetivo é que os corretores se transformem em consultores que ofereçam soluções de longo prazo aos segurados", afirma o diretor de produtos da companhia, Paulo Umeki.

A companhia alemã Allianz Seguros tem no prestígio global da marca um apelo forte de vendas perante os clientes, avalia o diretor de vida, atuária e precificação da seguradora, Olívio Luccas Filho. O executivo ressalta que um dos motivos que levaram. a empresa a retomar a atuação na área de vida no Brasil, em 2007, foi justamente a demanda de clientes de outros tipos de seguro que procuravam por esse produto da Allianz. "A Allianz é uma marca conhecida mundialmente e atua há cem anos no Brasil. Tudo isso traz grande segurança do cliente na solidez da companhia", afirma.

A Allianz também vem apostando em produtos diferenciados para conquistar mercado. Segundo Luccas Filho, a empresa lançou, por exemplo, um modelo de contratação da apólice de seguro de vida individual que permite ao segurado escolher o valor mensal que deseja pagar pelo seguro, conforme as coberturas contratadas, ou optar pelo valor do capital.

A seguradora Mongeral, associada da holandesa Aegon, lançou um produto para atender o mercado de alto poder aquisitivo, com capitais segurados de R$ 2 milhões a R$ 10 milhões e preços compatíveis com o perfil pessoal do cliente. De acordo com a empresa, as condições para oferecer esse tipo de seguro são viáveis apenas porque é realizado um processo de análise completo que considera os hábitos de vida e condições médicas dos segurados. Conforme a Mongeral, parte desse mercado tem sido atendida hoje por planos feitos fora do país, o que expõe os segurados a multas, uma vez que a contratação de seguro no exterior, salvo exceções previstas em lei, é proibida.

Já a companhia americana Assurant Solutions focou seus produtos no Brasil nas classes C e D. A empresa desenvolveu seguros com valores mais baixos e realizou parcerias com grandes redes de varejo, com objetivo de atingir a população que dificilmente compraria um seguro numa agência bancária.

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