27 de mai. de 2011

BRASIL AINDA ESTÁ LONGE DE TER PRONTUÁRIO ELETRÔNICO NO SUS

jornal Brasil Econômico 23/05/2011 - Amanda Vidigal Amorim

Há mais de dez anos, o governo brasileiro tenta colocar em funcionamento um sistema eletrônico que modernize o atendimento em hospitais públicos e postos de saúde. Desde 2001, foram gastos pelo Ministério da Saúde cerca de R$ 400 milhões para colocar em operação um cadastro nacional que concentre o prontuário completo dos cidadãos atendidos na rede pública. Porém, foi só no início deste mês, com a regulamentação do novo Sistema Nacional de Saúde, que o projeto começou a se concretizar.

Ao todo, devem ser emitidos 200 milhões de Cartões Nacionais de Saúde no país nos próximos três anos, em parceria com estados e municípios. Os dados deste documento são armazenados no Cadastro Nacional de Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e no Portal de Saúde do Cidadão. O objetivo é ter um registro eletrônico que permita a cidadãos, gestores e profissionais de saúde acessar o histórico dos usuários do SUS. Mas isso não significa que o prontuário eletrônico estará pronto para o uso.

O que se busca nesta primeira etapa é padronizar o registro dos pacientes do SUS. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem 18 milhões dos atuais cartões do SUS. A população local, no entanto, é de cerca de 10 milhões, mostrando que a mesma pessoa pode ter de dois a três números de registro. Feita a padronização, o passo seguinte será disponibilizar o prontuário do paciente para toda a rede de atendimento. O prazo para que isso ocorra ainda nem foi estabelecido.

Alternativas

No vácuo deixado pela falta de agilidade pública, surgem projetos independentes e mais baratos para tentar dar vida ao prontuário eletrônico. O médico sanitarista Rubens Kon, coordenador do Projeto Borboleta, desenvolvido pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo e o Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa, foi um dos que tentou assumir a missão.

Ele coordenou a equipe criadora de um software que facilita o atendimento do programa Saúde da Família, ao disponibilizar as informações médicas pelo celular. Os agentes que visitam as casas de pacientes têm acesso online ao prontuário, graças a um investimento bastante modesto. “Conseguimos inicialmente, por meio de edital, R$ 300 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo para desenvolver o projeto piloto”, afirma Kon. O programa ainda permite que o agente ou o médico atualizem o cadastro em tempo real.

Diferentemente do projeto coordenado por Kon, que pode ganhar escala imediatamente, o do Ministério da Saúde ainda deve demorar bastante. “É isso que nos preocupa. O que será feito com o Cartão SUS é apenas um registro único. Esse cartão não tem tecnologia para o prontuário eletrônico”, diz Kon, que, apesar dos percalços, continua acreditando na viabilidade de um cadastro nacional. “Vamos ter um atendimento diferenciado e pautado na tecnologia, mas não há prazo para isso.” Procurado, o Ministério da Saúde não retornou os pedidos de entrevista.

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