jornal Brasil Econômico 21/10/2010 - Thais Folego
"Muitos pagam por poucos." Essa é a principal explicação da indústria de cartões para as altas taxas de juros cobradas nos cartões de crédito que, segundo a consultoria Lafferty, variam de 188% a 433% ao ano no Brasil. A título de comparação, nos Estados Unidos, a taxa cobrada no cartão varia entre 8,99% e 28,7% ao ano (veja mais nos gráficos). Ter mecanismos para criar um equilíbrio entre a taxa de juros cobrada entre os portadores do plástico é um dos desafios que o setor tem pela frente, avalia Ivo Vieitas, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e presidente da Hipercard. "A indústria não se sente confortável com o patamar atual."
Ele se refere a um efeito do modelo da indústria de cartões no Brasil: do estoque de crédito concedido por meio do cartão de crédito, apenas cerca de 30% cobram juros, enquanto a grande parcela de 70% é livre de taxas. A parte com juros é composta pelas compras parceladas com juros, pelo crédito rotativo do cartão .e pelo parcelamento da fatura. A parte sem juros é formada pela modalidade parcelado sem juros e pelo "grace period", período sem cobrança de juros pelo banco entre o dia da compra e o vencimento da fatura do cartão.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a distribuição do risco é feita de forma mais homogênea entre os portadores de cartão. Lá, quase inexiste a modalidade de compra parcelado sem juros e o "grace period" é dado apenas para quem paga a fatura na data, caso contrário o cliente paga juros retroativos (dos dias entre a compra e o vencimento da fatura). "Nos EUA, há mecanismos de equilíbrio e mesmo assim nada está mais sob ataque do que o mercado americano de crédito", pondera Vieitas.
"O parcelado sem juros é um fato de difícil solução, mas há países indo nessa direção", comenta. Ele observa que se começa a ver no comércio eletrônico americano alguns lojistas oferecendo parcelamento sem juros como diferencial competitivo. Na avaliação do diretor, o desestímulo do uso dessa forma de parcelamento não virá da indústria de cartões, pois quem teria que tomar essa decisão é o varejo.
Uma forma de desincentivar o lojista, segundo Vieitas, seria cobrar uma taxa de desconto sobre a transação maior quando concedido o parcelamento sem juros. "Seria uma medida antipática, mas uma solução", diz o diretor, explicando que melhor seria criar um mecanismo sem ter que "brigar" com o estabelecimento. "Haveria quem dissesse que o lojista não aquenta mais pagar [taxas], mas hoje quem está pagando tudo é o pequeno percentual de portadores que paga juros", diz.
Segundo informação do mercado, da parte do crédito no cartão com juros, no rotativo é cobrada uma taxa de juro mensal média de 10,1%, de 6,5% no parcelado com juros e 13,1% de atraso no pagamento (mora e multa). Se esses juros fossem divididos pelo total de crédito no cartão daria uma média ponderada de 3,6% de juro ao mês. Vieotas lembra, ainda, que a propensaõ do portador do cartão no Brasil de financiar por meio do plástico e de 25%,enquanto nos EUA ela é de 80%.
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