jornal Valor Econômico 31/10/2011 - Jacilio Saraiva
Os brasileiros estão cada vez mais confiantes em clicar o mouse para fazer compras. O aumento do acesso a computadores e à internet está causando uma verdadeira revolução na maneira como eles adquirem produtos e serviços, segundo os especialistas em economia digital. De acordo com os dados do e-bit e da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara-e.net), o faturamento do comércio eletrônico nacional no primeiro semestre foi de R$ 8,4 bilhões, uma alta de 24% em relação ao valor registrado no mesmo período de 2010.
"Os números permitem fazer uma projeção de R$ 18,7 bilhões em 2011, um salto de 26% em relação ao ano passado", avalia Gerson Rolim, diretor da câmara-e.net. "Além disso, devemos alcançar 32 milhões de e-consumidores até o fim do ano, ante 23 milhões de usuários em dezembro de 2010."
Para Rolim, a ascensão econômica da classe C e uma maior segurança em efetuar negócios virtuais também são fatores responsáveis pela escalada nas entregas.
O setor aponta para novas tendências, como o 'social commerce', em que os consumidores são expostos às ofertas por meio de recomendações de amigos nas redes sociais, e o crescente uso do celular para finalizar transações.
O perfil do cliente que compra na web também mudou. As mulheres com idade superior a 50 anos passaram de 14% para 21% do total de compradores, entre 2005 e 2010.
"Os segmentos que mais vão crescer no comércio eletrônico, nos próximos anos, são compras coletivas; saúde, beleza e medicamentos; roupas, acessórios e serviços", prevê Rolim. "As pequenas lojas virtuais devem buscar um nicho de mercado e especializar-se. É muito difícil para um pequeno empresário brigar por preço com os grandes varejistas da internet."
No site Pandora Experiências, a receita para laçar compradores é vender presentes originais. A lista inclui três mil opções, com preços entre R$ 70 e R$ 380, como passeios de Ferrari pelas ruas de Gramado (RS), viagens de helicóptero ou saltos de paraquedas.
"Investimos cerca de R$ 1,5 milhão no desenvolvimento de parcerias com prestadores de serviços, infraestrutura de TI e divulgação", lembra Ricardo Ferreira, sócio-fundador da empresa de 12 funcionários. Em um ano de atividades, coleciona seis mil vendas e deve faturar R$ 8 milhões.
No último Dia dos Namorados, Ferreira registrou o tíquete médio mais alto do ano, de cerca de R$ 200. "A maior parte dos clientes é de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas já recebemos pedidos de 21 Estados." Agora, desenvolve ferramentas para facilitar a sugestão de presentes de acordo com informações disponíveis no Facebook dos clientes.
Para Pedro Waengertner, professor do curso de pós-graduação em marketing digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), os novos caminhos apontam para maior participação do social commerce, a fusão entre as mídias sociais e o comércio eletrônico. "Quem dominar essa área vai criar um diferencial competitivo difícil de ser copiado", diz. "Outro caminho é a mobilidade, que deve tornar-se cada vez mais presente, com o aumento da quantidade de assinantes de smartphones no Brasil."
O site LikeStore, por exemplo, quer atrair empresas interessadas em vender produtos e serviços no Facebook. Com o serviço, os usuários da rede social podem criar vitrines de ofertas e realizar vendas. Também ajuda a fazer controle de estoque, cálculo de fretes e acompanhamento de pedidos.
Um dos primeiros clientes a explorar a novidade foi a Show de Ingressos, que vende entradas para espetáculos na sua página social. O pagamento pode ser feito por meio de cartão de crédito ou transferência bancária.
Outro cliente da LikeStore, a Ovo Camisetas Significativas, loja de roupas customizadas de Belo Horizonte (BH), abriu um ponto na rede social e passou a vender para todo o Brasil. "Tudo feito com um investimento quase zero", afirma Gabriel Borges, co-fundador e diretor da LikeStore.
Segundo o empresário, não são cobradas taxas de ativação ou mensalidades. A cada venda realizada, o lojista paga à LikeStore uma comissão de 2%. "O social commerce tem alto potencial de sucesso no Brasil porque somos o país da América Latina com o maior percentual de e-consumidores no total de usuários de internet e ainda aparecemos como campeões de participação nas redes sociais, em todo o mundo." Há mais de 22 milhões de internautas brasileiros no Facebook.
De acordo com Waengertner, da ESPM, as compras on-line também são alavancadas pelo surgimento de sites de compras coletivas, que ajudam a introduzir o e-commerce no cotidiano dos internautas.
De olho nesse nicho, o Busca Descontos resolveu reunir em um único endereço as promoções dos principais varejistas do Brasil. Segundo Pedro Eugênio, criador e CEO do site, o público que acessa o serviço é formado por pessoas que já pesquisaram os melhores preços em outros sites e desejam um desconto significativo. O site tem mais de 1,3 milhão de cadastrados. No ano passado, recebeu aporte do grupo francês Lead Media.
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