jornal Brasil Econômico 03/11/2011 – Flávia Furlan
O fim da exclusividade entre bandeiras e credenciadoras de cartões, promovida em julho de 2010, trouxe uma importância maior para as maquininhas usadas no varejo. Se antes elas eram apenas instrumento para pagamento de compras, hoje já representam uma forma de prestação de serviços e oferecimento de produtos, o que têm aumentado inclusive as receitas das credenciadoras, resultados vistos no terceiro trimestre deste ano. E, diante de um cenário de queda nas taxas pagas pelos varejistas, agregar valor a esses equipamentos é mais que um desafio, é uma necessidade.
O presidente da Redecard, Claudio Yamaguti, diz que não é à toa que essas máquinas se assemelham a um computador. “Você pode colocar em um mesmo ponto de venda transações não-financeiras”, ressalta. Na empresa, uma das iniciativas é a captura do programa “km de vantagens”, dos postos Ipiranga. Na Redecard, a queda da taxa cobrada do varejista foi de 1,33% para 1,14% por transação de crédito entre o terceiro trimestre de 2010 e o mesmo período de 2011. A receita com aluguel das máquinas caiu 8% no mesmo período, mas avançou 8,3% na comparação com o segundo trimestre, recuperação ligada a mais serviços e tecnologia.
A concorrente Cielo, por sua vez, revelou no terceiro trimestre aumento nas despesas para fazer frente às campanhas de uso de suas maquininhas, mas que já mostraram resultados na receita. As despesas operacionais chegaram a R$ 57 milhões de julho a setembro, aumento de 52,3% frente ao terceiro trimestre de 2010. Já a receita operacional líquida atingiu R$ 1,05 bilhão, alta de 2,4%na comparação anual. Segundo o presidente Rômulo Dias, quando a Cielo faz uma parceria, há aumento de despesas, mas também de receita. “Afeta o resultado, mas o que temos de olhar é a última linha do balanço, a do lucro líquido. O da Cielo é o maior da indústria”. No terceiro trimestre, o lucro líquido caiu 6,3% ante mesmo período de 2010, quando o resultado havia ficado muito acima do registrado pelo mercado em geral: alta de 23%. No entanto, frente ao segundo trimestre deste ano, o lucro líquido subiu 8% e elevou a compa nhia a 57,9% do mercado. “Outras companhias virão participar do mercado e tenho de ter serviços e produtos diferenciados. Mais do que nunca isso se faz necessário”. Entre os programas da Cielo está um de fidelidade aos lojistas cadastrados, de troca de pontos acumulados em transações por produtos, que já chegou a 17 mil varejistas.
O Santander também acordou para a necessidade de lançamento de uma campanha para capturar mais transações. A credenciadora do banco, que nasceu em2010 em uma parceria com a GetNet, passou a oferecer benefícios neste mês para varejistas. A principal novidade é o desconto fixo de até 100% ao varejista no valor do pacote de serviços da conta-corrente se o faturamento com transações por cartão for igual ou superior a R$ 3 mil por mês.
“Com as iniciativas, as empresas poderão reduzir seus custos com os serviços de transações de cartões”, diz Ramón Camino, diretor do Santander. Em 12 meses, a credenciadora cresceu em 92% a base de estabelecimentos, para 200 mil.
Indústria chegará ao primeiro trilhão em 2015
O setor de cartões fechou o ano de 2010 com um faturamento de R$ 541 bilhões e, para 2015, deve atingir o valor de R$ 1,3 trilhão, prevê o presidente da Redecard, Claudio Yamaguti. Em 2020, no entanto, a indústria vai chegar a R$ 2,2 trilhões em faturamento. O espaço para crescimento, segundo o executivo, está na substituição de meios de pagamento, com maior uso de cartões para pagamento de compras em detrimento do dinheiro e cheque.
“Em 2010, os cartões representavam 24,5% no consumo das famílias, o que eram os Estados Unidos há dez anos”, diz Yamaguti, que cita que é registrada uma transação por mês em cada cartão no Brasil, ante cinco em plásticos usados no exterior. Se o uso do cartão no consumo das famílias brasileiras fosse de 45%, isso representaria um impacto de 0,7% no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para Yamaguti, o crescimento da indústria de cartões depende muito mais de um processo cultural do que de desenvolvimento de infraestrutura.
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