jornal DCI 10/11/2011 - Ernani Fagundes
Fundado em 1998, o modelo de negócios do Banco Palmas terá mil agências até 2014. "Com o apoio da sociedade civil, estamos expandindo a rede de bancos comunitários para todo o Brasil. Nossa missão é levar o microcrédito para populações carentes em diversas regiões", declarou o coordenador do Instituto Palmas e idealizador do Banco Palmas, João Joaquim de Melo Neto Segundo, em entrevista exclusiva ao DCI, após palestra no Congresso Internacional de Microsseguros.
Com moeda própria, a Palma, a instituição financeira que Joaquim representa, cresceu para uma rede comunitária de 66 agências em 2011. "Os custos para instalar uma unidade bancária são da ordem de R$ 60 mil. Em muitos casos, as comunidades engajadas arrecadam para instituir o Banco, mas, em outros casos, são parcerias com empresas e o poder público que fornecem o capital inicial para o microcrédito", detalha Joaquim. Ele citou, por exemplo, parcerias recentes com a Petrobras e a Prefeitura do Rio de Janeiro para instalar unidades em bairros cariocas.
A ideia original surgiu na comunidade do bairro Palmeiras, na periferia de Fortaleza, no Ceará. Os 35 mil habitantes da localidade uniram-se para criar a instituição financeira que fornece empréstimos de pequeno valor para desenvolver atividades de produção, do comércio e de serviços locais. O banco comunitário fornecia empréstimos entre R$ 50 e R$ 200 aos empreendedores da comunidade. A iniciativa gerou pequenas empresas rentáveis, como a Palma Fashion, a Palma Couro, a Palma Limpe, PalmaTur e Palma Calçados, além promover a sustentabilidade econômica dos demais negócios na região.
Hoje, o modelo autorizado pelo Banco Central como Organização de Sociedade Civil de Interesse Público para Microcrédito (OCP) é reconhecido internacionalmente. O Banco Palmas possui R$ 3 milhões em caixa para empréstimo e empresta R$ 10 milhões por ano, com 25 mil operações bancárias por mês. "Como o banco é da comunidade, não há o conceito de lucro líquido, mas em 2011 vamos fechar com um excedente de R$ 40 mil. Todo o excedente é devolvido em benefícios à população local", explica.
Além da atividade de microcrédito, a instituição financeira fechou convênios com a Caixa Econômica Federal e com o Banco do Brasil e atua como correspondente bancário. "Foi a forma que encontramos para que as pessoas tivessem acesso a pagamento de contas e ao recebimento de benefícios da previdência e do Bolsa Família", justificou.
A criação da moeda social, a Palma, foi outra forma encontrada de fazer o dinheiro circular na região. A Palma é conversível em reais, na razão de um por um. Dessa forma, os reais recolhidos pelo banco são utilizados para novos empréstimos para trazer insumos ou mercadorias que são produzidos fora da localidade. Enquanto o real não é convertido, a população utiliza a moeda social dentro da estrutura de compra e venda da comunidade. "Conversamos com cada família e mapeamos tudo que as pessoas compravam e vendiam. Logo no início, descobrimos que a pobreza estava associada ao fato de que todo o rendimento que produzíamos era levado para fora da comunidade, não ficava para produzir riqueza", argumenta. "Hoje, o dinheiro fica para criar valor, criar riqueza."
A rede de bancos comunitários também produziu dezenas de moedas sociais que recebem nomes relacionados às comunidades, como Acaraú, Beberibe, Maracanaú, Paracaru, Palmácia, Irauçuba, Vila Velha, Palhano, Tamboril, Monsenhor Babosa, Madalena, Ibaretama, ocará, choro, Campos, Irauçuba, Juazeiro, e Itarema, entre outras.
Além de exportar o modelo para outras regiões brasileiras, à medida que o banco se desenvolveu passou a incorporar novos produtos e serviços. Entre as novidades para 2012, o banco estabeleceu parcerias com a Caixa, a Visa e a MasterCard para receber o projeto piloto de banco móvel, que permitirá a compra de produtos financeiros e o pagamento de contas pelo celular. No momento, o banco trabalha com vendas nas agências, porta a porta, com POS móvel e pela Internet.
Outro ramo em que a instituição financeira iniciou atividades é o de microsseguros. Em parceria com a Zurich Seguros, o Banco Palmas oferece três produtos em microsseguros. O primeiro é o seguro de vida para mulheres atendidas pelo Bolsa Família: com R$ 10, a beneficiária contrata o benefício de R$ 700 para auxílio-funeral em caso de risco de morte e R$ 300 como indenização por morte natural ou acidental. "A campanha é: mesmo morto, eu ajudo meu bairro", brinca Joaquim, sobre a criação da empresa Palmas Serviços Funerários.
A diretora de Bancassurance da Zurich Brasil, Diana Bueno, contou que a iniciativa já produziu a venda de 1,9 mil apólices desde outubro de 2010. "Com a expansão da rede comunitária acreditamos na meta de um milhão de vidas nos próximos anos.
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