jornal Folha de S. Paulo 06/11/2011 - Felipe Vanini Bruning
Apesar de terem sumido das carteiras de muitos clientes que têm conta em bancos, os cheques ainda apresentam poder de barganha em estabelecimentos que fogem das taxas cobradas pelas operadoras de cartão de crédito.
"Costumamos sempre dar pelo menos um desconto de 5% [equivalente à taxa cobrada pelas administradoras de cartão] para os clientes que preferem pagar em cheque ou dinheiro", diz Berenice Pacheco de Couto, diretora financeira da Andy Cabos, loja de cabeamentos eletrônicos e de dados da Santa Ifigênia, região de comércio popular de São Paulo.
O proprietário da loja paulista de equipamentos automotivos Comando Acessórios, Gerson Ferrara, afirma que, em razão de sua baixa margem de lucro -de 20% a 30%-, também oferece descontos.
"Se o cliente quiser usar outro meio de pagamento diferente do cartão de crédito, deduzimos até 15%, dependendo da mercadoria."
Apoiados por essa vantagem, consumidores aproveitam para obter benefícios. "Sempre tento negociar algum desconto quando pago em cheque", diz a atendente comercial paulistana Nathalie Duarte.
SEM FUNDOS
No entanto, especialmente por causa do risco de inadimplência e pelo avanço de qualidade de tecnologia dos meios eletrônicos, vários comerciantes passaram a recusar os cheques. De 1995 a 2010, o uso regrediu 66%.
Márcia Lurdes, gerente da Refla Sound, também situada na região da Santa Ifigênia, afirma ter R$ 90 mil a receber de cheques sem fundos. "Há um ano não aceitamos mais cheques. Os bons acabam tendo de pagar pelos ruins."
De acordo com Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, o comércio é livre para aceitar os meios de pagamento que considera mais vantajosos.
"Não há uma orientação específica da entidade. Se, no setor em que a empresa atua, ela considera que vale mais a pena correr o risco de o cheque voltar do que pagar as taxas das administradoras, pode fazer isso", diz Solimeo.
INADIMPLÊNCIA
Segundo a Serasa Experian, a inadimplência nos cheques subiu de 1,59%, em média, em 2010 para 1,82% em setembro deste ano.
"Houve um aumento, mas ainda devemos fechar o ano melhor do que em 2009, quando a taxa atingiu 1,94%", afirma Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian.
De acordo com Luís Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da consultoria Austin Rating, um dos motivos foi a reforma do Sistema de Pagamentos, no início dos anos 2000.
"Hoje, é raro cheque com valores muito altos. Os clientes bancários passaram a utilizar mais as transferências eletrônicas, como o DOC e o TED, para essas operações", afirma Santacreu.
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