jornal O Estado de S.Paulo 16/05/2011 – Luiz Guilherme Gerbelli
Um em cada quatro universitários adota comportamento de risco com o uso do cartão de crédito. É o que revela um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento, realizado com 769 estudantes de São Paulo, também aponta que 70% dos pesquisados desconhecem as taxas de juros cobradas no cartão de crédito.
Os jovens classificados com comportamento de risco são aqueles que se enquadram em ao menos uma das seguintes situações: têm débitos no cartão de crédito acima ou igual a R$ 1 mil, atrasam o pagamento do cartão e não pagam o total da fatura ou usam todo o limite estabelecido para o cartão de crédito.
"A quantidade de universitários com comportamento de risco é preocupante, porque estamos falando de um perfil mais bem informado", diz o professor da FGV, Wesley Mendes da Silva, coordenador da pesquisa.
Outro comportamento comum entre os jovens no grupo de risco é a posse de diversos cartões de crédito. Segundo o estudo, 26,3% dos estudantes desse grupo têm três ou mais cartões. "Esse problema chega a afetar o desempenho do aluno na universidade", diz o professor.
Pela pesquisa, os problemas financeiros afetam a concentração de 24,3% desses jovens, enquanto 29,9% têm problemas para dormir. Mendes da Silva também lembra que a maioria dos jovens no grupo de risco ainda é dependente financeiramente dos pais.
Apesar da pouca preocupação dos universitários com as taxas do cartão, o levantamento aponta que eles estão dispostos a aprender sobre educação financeira. Pela pesquisa, 70,5% dos universitários fariam curso online de finanças pessoais, enquanto 81,6% aceitariam ter aulas na universidade sobre o assunto.
Alegria no curto prazo. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), a expectativa é que até o fim deste ano cerca de 170 milhões de cartões de crédito circulem no País, uma alta de II% na comparação com o ano passado. A expectativa da associação é que as transações com crédito somem R$ 3,5 bilhões este ano.
Para a psicanalista e especialista em comportamento financeiro, Vera Rita de Mello Ferreira, os universitários não são o único grupo a se comportar dessa maneira. De acordo com ela, os estudantes somente reproduzem um comportamento de toda a sociedade.
"Quando damos de cara com uma informação chata a gente costuma dispensá-la, ignorá-la", diz. No uso do cartão de crédito, ela lembra que as taxas significam para o jovem a finitude dos recursos dele. "O crédito só acena com alegria no curto prazo."
De acordo com Vera, a preocupação com a administração dos recursos e com a cobrança de taxas de juros não é maior por causa do nível educacional ou da renda. "Obviamente, a situação só piora se houver menos familiaridade e informação sobre o tema", afirma a psicanalista.
Educação é sexta rioridade entre gastos dos jovens
Outro dado que chama a atenção na pesquisa da FGV é a prioridade dada pelos universitários para o uso do cartão de crédito. O gasto com educação é citado por 17% deles e só aparece como a sexta prioridade. "Esse dado indica uma inversão total de prioridades, pois foram somente estudantes que participaram do Levantamento", diz o professor Wesley Mendes da Silva, da FGV.
Na lista de prioridades estão roupas e itens pessoais (46,2%), entretenimento (37,7%), refeições (28,3%), automóveis (20,2%) e viagens (19%). O cartão de crédito também é usado para pagamento de contas (4,9%) e aluguel (1,6%). Outras despesas somam 6,5%.
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