jornal DCI 23/05/2011 - Renato Carvalho
Um setor que cresce em média 20% ao ano nos últimos anos, que faturou R$ 15 bilhões no ano passado, e que mesmo assim, um de seus representantes afirma que ainda é visto pelo mercado como o "patinho feio" da economia, especialmente do sistema bancário. Estes são os números das empresas de recuperação de crédito no Brasil, uma atividade que ainda é vista com carga muito negativa, pela própria atividade que exerce, mas que se profissionaliza mais a cada ano, e que trabalha para melhorar sua imagem.
O diretor executivo da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito, Vicente de Paula Oliveira, afirma que, ao contrário do que se pensa, o aumento da inadimplência não é bom para o segmento. "Para nós, o que é realmente interessante é a retomada da cidadania pelo devedor, uma 'readimplência'. Até porque a inadimplência não acontece somente por descontrole do devedor. Fatores como desemprego e problemas de saúde na família podem acontecer a qualquer momento", afirma.
Os números apresentados por Oliveira são uma estimativa da entidade, baseada em uma comissão média de 11% cobrada pela recuperação. Esse mesmo levantamento estima que as empresas de recuperação de crédito injetaram de volta na economia cerca de R$ 140 bilhões em 2010.O setor também mostra um número que é, segundo o próprio diretor da Aserc, o mais importante de todos. As empresas de recuperação de crédito empregavam, até o final do ano passado, 350 mil pessoas em todo o País. "Deste total, dois terços atuam na parte operacional, na linha de frente. O restante é composto por gerentes e executivos", explica Vicente de Paula Oliveira.
Ele conta ainda que o Código de Defesa do Consumidor, que entrou em vigor em 1990, foi um marco de evolução para as empresas de recuperação de crédito. "Antes, as empresas pegavam a carteira dos donos do crédito, geralmente bancos, recuperavam 100 e alegavam ter recuperado 70, além de pedir a comissão. Hoje, é tudo eletrônico, as empresas já emitem o boleto de cobrança em que o favorecido é o banco, e a comissão é paga pela taxa de sucesso na recuperação", conta.
Oliveira afirma que houve uma evolução também na maneira de abordar o devedor. Não se admite mais posturas de intimidação. "Nós chamamos a mesa onde ficam os funcionários de 'Postos de Negociação'. Atualmente, até pelo próprio Código de Defesa do Consumidor, é preciso uma postura mais diplomática de quem cobra, para arrumar soluções sem trazer constrangimento". A Aserc possui inclusive uma ouvidoria, que acolhe denúncias de abuso e também pedidos de auxílio feitos por devedores.
Uma pesquisa feita pela Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc) mostra que a principal causa da inadimplência no Brasil ainda é o descontrole financeiro. Segundo a pesquisa, 35% dos devedores alegam este motivo para deixar de pagar uma dívida.
"Nós temos uma mídia muito agressiva, que incentiva o consumismo. Para amenizar isso, é preciso dar importância à educação financeira", afirma o diretor executivo da entidade, Vicente de Paula Oliveira.
A segunda maior causa de inadimplência alegada pelos devedores é o desemprego, com 24%. Logo depois, vem a compra para terceiros, com 16%. "Este é um problema aparentemente simples de resolver, mas ainda muito recorrente", afirma o executivo.
Problemas de saúde é a justificativa de 8%, e 3% afirma que deixou de pagar por problemas de família. "A inadimplência sempre vai existir, mas um consumo mais consciente por diminui o índice".
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