27 de mai. de 2011

CONSIGNADO VIRA PRIORIDADE PARA GIGANTES

jornal DCI 24/05/2011 - Marcelle Gutierrez

O sistema bancário brasileiro enfrenta modificação no cenário das carteiras de crédito. As linhas de consignado, que antes eram o foco da atenção dos bancos de médio e pequeno porte, agora fazem parte também dos planos de expansão dos grandes bancos.

Na comparação com março de 2010, as cinco maiores instituições financeiras divulgaram aumento considerável nesse segmento e revelaram planos de maior investimento. No primeiro trimestre de 2011, o Banco do Brasil cresceu 19,4%, o Santander 34,6%, Bradesco 28,3% e Caixa Econômica Federal 23,4%.

Os números do Banco Central das operações em março deste ano também reforçam a força do consignado no sistema financeiro. Do crédito pessoal, a linha representa 59,9% e o saldo chega a R$ 142,908 bilhões. Deste total de empréstimos, 85,7%, ou R$ 122,486 bilhões, têm origem no setor público, que abrange funcionários públicos ativos e inativos, aposentados e pensionistas. O setor privado possui 14,3%, com R$ 20,422 bilhões.

Ao analisar os últimos 12 meses do crédito consignado, a fatia que apresenta superior crescimento é a do setor público, de R$ 100,183 bilhões em março de 2010 para R$ 122,486 bilhões no mesmo período de 2011.

Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o atual crescimento demonstra os investimentos dos grandes bancos.

"Os maiores entendiam que o consignado competia com o crédito pessoal, já que possui taxas de juros mais baixas. Então, investiam somente no crédito pessoal, que tem maior rentabilidade. Com isso, começaram a perder clientes para outras instituições, com queda no volume de operações". As taxas de juros mensais ficam entre 2% e 2,5%, segundo o BC. Segundo Oliveira, o cenário foi alterado quando o segmento foi identificado como de baixo risco e uma boa oportunidade para fidelizar o cliente.

Um exemplo recente de investimentos no setor público foi a compra do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj) pelo Bradesco, por R$ 1,9 bilhão, que proporciona ao banco o direito de operar, por três anos, a folha de pagamento de 440 mil funcionários ativos, inativos e pensionistas. "Os servidores públicos são clientes com perfil muito interessantes para o Bradesco, pois têm a estabilidade financeira. Além disso, há a fidelização, porque quando tem um contrato de cinco anos, por exemplo, tem a oportunidade de oferecer outros produtos e serviços", disse Renan Mascarenhas, diretor do departamento de poder público do Bradesco.

Com a operação da folha de pagamento, a instituição tem a possibilidade de atuar também com o crédito consignado. O Bradesco possui ainda contratos com os governos do Amazonas, Ceará, Pernambuco e mais de 1,5 mil órgãos públicos, que abrangem também as prefeituras. O forte investimento dos quatro grandes bancos em linhas de crédito consignado pode impactar as instituições financeiras de menor porte, por conta da maior capacidade de captação de recursos.

Mas, na opinião de Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), não há grande preocupação do setor de pequenos e médios bancos. "Acho desejável ter mais bancos operando, porque a tendência é o produto ficar mais barato. A gente se preocupa somente quando não há a possibilidade de operar. Cada banco tem sua decisão e é natural ter revisão dos negócios".

Já o professor de economia da Anhembi Morumbi, Marcelo A. Corrêa, acredita que estes bancos terão que reavaliar suas estratégias de mercado. "Vai ser uma briga entre os pequenos e grandes, quee terão que rever seu posicionamento. Mas existem alternativas que os maiores ainda não atendem, como o microcrédito".

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