15 de mai. de 2011

REDES VENCEM NOVA BARREIRA E CARTÕES CHEGAM AOS TÁXIS

jornal Valor Econômico 13/05/2011 - Adriana Cotias

Há quatro anos na praça de Manaus, o taxista Carlos Olímpio Barros Carneiro construiu uma carteira de clientes formada especialmente por profissionais de firmas de auditoria independente e executivos da indústria da Zona Franca. Roda por mês mais de 15 mil quilômetros e chega a faturar R$ 10 mil com as corridas de um público que, ao longo do tempo, se tornou fiel. A bordo do seu automóvel, um Ford modelo Eco Sport, ele é reconhecido por duas peculiaridades: aceita cartões de crédito e débito e transporta, junto com seus passageiros, um dos seus "bichinhos de estimação": a jiboia Sofia, que virou atração entre os visitantes.

Excentricidades à parte, o caso de Carneiro é emblemático do avanço dos meios eletrônicos de pagamentos em novos segmentos. O taxista se qualifica como um pioneiro nessa área, não demorou a colocar uma maquininha de captura (o chamado POS) no seu carro, situação que só começa a ganhar evidência nas capitais das grandes cidades do Sudeste recentemente.

A Coopertaxi, que reúne uma frota de 550 veículos em São Paulo e fatura cerca de R$ 3 milhões por mês, acaba de fechar acordo com a Redecard. Segundo Daniel Sales, que representa os cooperados, os taxistas que aderirem aos cartões vão ter isenção de um ano no aluguel do POS. A tarifa negociada por transação de débito foi de 2% e no crédito ficou em 7%, já incluindo a taxa de antecipação do pagamento, acertado para ser feito em até três dias após a captura. "Sem a antecipação, o crédito custaria 3,65%, mas a tarifa mais alta, junto com a antecipação, foi a alternativa para que tivéssemos um ano de cortesia nas maquininhas", diz.

Já a Rádio Táxi Vermelho e Branco tem cerca de 400 carros da frota de 625 veículos com POS rodando na capital paulista, alguns com máquinas da Redecard e outros com as da Cielo. "Numa assembleia recente, os cooperados votaram colocar a maquinina na frota toda. Agora virou obrigatório", conta Ismael Nogueira, coordenador da cooperativa no Aeroporto de Congonhas. A expectativa é de que até o mês que vem os motoristas recebam os equipamentos.

Pelo acordo, a Cielo tem dado seis meses de isenção e depois vai cobrar R$ 34,90, enquanto na Redecard o acerto é de um ano, com custo de R$ 29,90 após esse período. Nas duas credenciadoras, o desconto na transação de débito é de 2% e de 3% na de crédito, mas Nogueira conta que os taxistas têm preferido a Cielo porque é a máquina que, além de Visa e MasterCard , também captura a bandeira American Express.

A Redecard reconheceu nas principais empresas de táxi um nicho promissor, já que as que prestam serviços a empresas ou têm pontos em hotéis e aeroportos costumam ter um tíquete médio mais alto, trazendo melhor rentabilidade, conta David Zini, diretor comercial de varejo. A rede se aproximou das associações e desenhou um pacote de oferta mais flexível para os taxistas, a fim de estimular o uso dos equipamentos. Ele diz que na mesa de negociações ficou claro que o preço fixo do aluguel era uma barreira de entrada.

Na eterna cruzada contra o dinheiro, a percepção do executivo é de que será uma questão de tempo para que o uso dos cartões nos táxis se torne tão comum quanto nos restaurantes, o consumidor vai se habituar a isso e daí será um caminho sem volta. Na carteira, além da Coopertaxi e da Rádio Táxi Vermelho e Branco, a Redecard amealhou a Guarucorp, do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e a Cootramo, que opera nos aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim, do Rio.

A Cooperluxo, cooperativa de táxi executivo em São Paulo - com carros que contam com amenidades como lap top, TV digital, DVD, rádio e celular -, participou do piloto da Cielo no compartilhamento de POS, situação possível a partir do fim da exclusividade da credenciadora com a Visa, em julho. Da frota de 150 automóveis, 90% já contam com as maquininhas. Segundo Nilson Carvalho, presidente da empresa, na escolha pesou a aceitação dos cartões American Express e taxas de desconto mais baixas: 2% no débito e 3% no crédito, enquanto na Redecard o crédito chegava a 4,5%. "Mais de 90% dos nossos clientes são turistas de negócios, não dá para não aceitar cartões, tivemos que testar a tecnologia."

A Cielo tem prestado atenção especial aos chamados mercados emergentes e o segmento de taxistas é um deles, diz Adriano Navarini, diretor de estratégia e planejamento comercial. Para esse público a rede desenhou não só um pacote específico, como também adaptou a tecnologia, com POSs com o cabos ligados à bateria do veículo. Outro exemplo de mobilidade, cita, são os POS que rodam na mesma plataforma dos terminais financeiros (TEF) usados pelos varejistas e que têm sido utilizado pelas distribuidoras de gás, permitindo a baixa automática dos estoques. No segmento de saúde, o aplicativo do POS baixado nos Iphone e Ipads da Apple, é que tem sido a coqueluche. Até março, 25 mil downloads haviam sido feitos na Apple Store.

A Redecard também tem feito um trabalho para vencer a resistência de profissionais da área de saúde, como médicos, dentistas e profissionais liberais. No ramo odontológico, em que os custos costumam ser mais elevados para o consumidor, essa tem sido uma ferramenta valiosa, pontua Zini. As vendas porta a porta é outra área em que a rede criou tecnologia específica, colocando no celular as funções de uma máquina de captura.

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