jornal DCI 03/05/2011 - Marcelle Gutierrez
Com aumento da renda e manutenção dos índices de emprego, o Brasil observa o início da mobilidade social, com ascensão de classes de renda mais baixa e geração de novos clientes para as instituições financeiras. No sistema bancário, a busca por este público cresce gradativamente, com lançamento de cartões pré-pagos, linhas de crédito específicas e aumento da capilaridade para além das tradicionais agências. Nesse contexto, a disputa pelos clientes não bancarizados deve esquentar ainda mais com a licitação do Banco Postal, que disponibiliza parceria com os Correios para serviços financeiros em 6.195 agências.
Desde 2001, a operação é realizada com exclusividade pelo Bradesco. No entanto, os Correios anunciaram para 31 de maio a licitação para a escolha da instituição que oferecerá os serviços em suas agências a partir de janeiro de 2012, com contrato de cinco anos e seis meses. Para participar do processo seletivo, os bancos têm de comprovar ativo total igual ou superior a R$ 21,6 bilhões e patrimônio líquido igual ou superior a R$ 2,16 bilhões. O valor básico de acesso ao negócio será de R$ 500 milhões.
Entre as instituições cotadas a participar da licitação estão: Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Santander, HSBC, BRB, Caixa Econômica Federal e o próprio Bradesco.
Na divulgação do balanço trimestral, o presidente do Santander Brasil, Marcial Portela, afirmou interesse no Banco Postal como estratégia de ampliação da rede de atendimento, com foco no aumento da proximidade com o cliente.
O Bradesco também declarou interesse na renovação. Para o vice-presidente Domingos F. Abreu os pontos de atendimento Bradesco Expresso e Banco Postal continuam como foco. "Nosso objetivo é oferecer facilidade para os clientes em transações básicas, pois em agências o custo é elevado." Abreu acrescentou que o Bradesco apresentou propostas para melhorar o edital do Banco Postal e acredita que é um modelo vencedor para o banco, sociedade e Correios.
Para o professor da escola de negócios da Anhembi Morumbi, Osmar Visibelli, há possibilidade de influência política na licitação e que deve beneficiar o Bradesco, já que há indícios de que o banco não interferiu na escolha do novo presidente da Vale com interesse em não se indispor com o Governo Federal e manter o Banco Postal.
Visibelli também acrescentou que o negócio é interessante para as instituições que possuem ambições varejistas. "Para o sistema financeiro, a licitação é importante porque força o banco a atender uma faixa da população que não é atendida e aumenta a concorrência", disse Visibelli, que acrescentou como vantagens esse público ter baixos índices de inadimplência e a ampliação do alcance da marca..
O conceito de aumento de capilaridade, já que os serviços serão oferecidos em 6.195 agências dos Correios espalhadas em todos os estados brasileiros, também é um benefício apontado por Adriano Gomes, especialista em economia pela ESPM. Contudo, Gomes aponta o negócio como um "mico".
"O bom é a ideia de capilaridade, mas é teórico, pois o foco são cidades pequenas, com pessoas de baixa renda e que utilizam os serviços para recebimento de benefícios do governo (Bolsa-Família, por exemplo) e remessas de quantias de outras cidades. Uma coisa é o discurso bonito de inclusão bancária, outra é a baixa rentabilidade. Fora o relacionamento com uma empresa parceira complicada, que é os Correios". Para ele, o Bradesco deve permanecer na disputa para manter a imagem de "presença".
No que se refere aos motivos da abertura do edital, ambos e acreditam em mudanças. "O novo edital oferece melhor remuneração para os Correios", disse Osmar Visibelli, da Anhembi Morumbi. Em relação ao modelo vigente, a novidade é a possibilidade dos Correios lançarem um cartão de crédito próprio e pré-pago para operações de débito, sem vínculo com o banco que vencer a licitação. Com isso, a empresa estatal passa a ter melhor remuneração nas operações. Antes, os Correios só tinham rentabilidade no preenchimento da proposta .
Já Adriano Gomes acredita na tentativa de reposicionamento da marca. "Os Correios não têm liderança e precisam se reinventar como empresa. A licitação parece ser uma nova estratégia."
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