jornal Valor Econômico 29/03/2011 - Adriana Cotias
Conter o endividamento das famílias pela via dos gastos no exterior financiados no rotativo do cartão de crédito. Esse deve ser o principal efeito do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2,38% para 6,38%, promovido ontem pelo governo. Com a mobilidade social, o brasileiro não vai deixar de viajar por conta do imposto mais caro, mas deve substituir parte das suas despesas para o câmbio manual, cheques de viagens e os emergentes cartões pré-pagos, que podem receber créditos em moeda estrangeira. Como esses instrumentos são considerados compra à vista de divisas, o IOF que incide é o de 0,38% das operações de câmbio.
"O IOF limita o gasto daquele consumidor que efetivamente usa o crédito do cartão de maneira complementar, para fazer as compras lá fora, mas não restringe diretamente o consumo", diz o diretor de cartões do Banco do Brasil, Denílson Molina.
A alíquota mais alta, que passou a valer ontem, vai limitar o financiamento do consumidor na linha mais cara entre as modalidades de crédito à pessoa física e cuja demanda disparou em janeiro, em ritmo acima do que se vinha observando para essa época do ano.
A média diária de concessões no cartão de crédito subiu 13,8% no primeiro mês do ano, a R$ 888 milhões, em comparação aos 6,4% de janeiro de 2010. Vale lembrar que nessa conta também entram as compras parceladas do consumidor, forma largamente utilizada como substituição ao cheque pré-datado.
Dos gastos dos brasileiros no exterior 63% são feitos com cartões, segundo Valdecir de Paula, da Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços (Abecs), mas comparativamente às transações locais, que somaram mais de R$ 625 bilhões no ano passado, essas despesas representam menos de 3%.
Além do endividamento, outro dado que o Banco Central (BC) vem monitorando, em tempos de real valorizado, é o de gastos do turista brasileiro em viagens internacionais. No primeiro bimestre, essa conta foi de US$ 1,9 bilhão, com expansão de 67% na comparação com o mesmo período do ano passado. As despesas com transporte internacional, por sua vez, cresceram 23,2%, a US$ 865 milhões, no mesmo intervalo.
Com a medida de ontem, os bancos tendem a reforçar a oferta de alternativas aos correntistas. Desde outubro, o BB voltou a emitir o Visa Travel Money, da Visa, na sua rede e Molina enxerga agora um cenário propício para se ampliar a distribuição. Até o fim do ano, o banco espera distribuir 100 mil plásticos, com um volume financeiro de US$ 150 milhões. Entre os grandes nomes de varejo, o Itaú é outra instituição que colocou o cartão turismo na prateleira, com o Global Travel Card, da American Express. A MasterCard, por sua vez, acaba de lançar o seu MasterCard Cash Passport.
Para Alexandre Fialho, do Banco Rendimento, o IOF mais alto dos cartões de crédito vai potencializar a demanda pelo Visa Travel Money, e é possível que a instituição precise rever os planos de expansão. "O pré-pago efetivamente só não substitui o cartão de crédito na alavancagem financeira nos gastos no exterior e nas reservas de hotel." Ele conta que na Cotação DTVM, ligada à instituição, 70% do que o viajante leva já é no pré-pago.
O consumidor não vai ter como fugir do IOF mais alto, porém, nas compras no exterior feitas pela internet, acrescenta Valdecir de Paula, da Abecs.
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