jornal Valor Econômico 29/03/2011 - Adriana Cotias
O Brasil é um dos mercados onde o tíquete médio das perdas decorrentes de fraude com cartões é um dos maiores dentro de amostra com oito economias. Pesquisa global encomendada pela americana ACI Worldwide, fornecedora de softwares de prevenção, mostra que as transações fraudulentas no país com volume superior a US$ 500 representaram 43% dos relatos dos brasileiros entrevistados. Comparativamente, só a China supera esse percentual, com 51%. Nas economias mais maduras, como Estados Unidos e Canadá, as movimentações não reconhecidas pelos clientes nessa faixa respondem por pouco mais de um terço do total. Nos mercados mais desenvolvidos, a concentração está em desvios de até US$ 100, caso do Reino Unido (32%) e da França (28%).
O levantamento, realizado no ano passado pela empresa Research Now, incluiu ainda Cingapura e Austrália, numa enquete que ouviu 2,5 mil consumidores.
Em comum, o Brasil e a China têm o fato de as economias vivenciarem um amplo processo de inclusão financeira, incorporando novos clientes ao sistema bancário, mas que ainda não têm uma cultura de preservação de dados enraizada, avalia o chefe da subsidiária brasileira da ACI, Hugo Costa.
No Brasil, com a disseminação do chip blindando os desvios nas lojas físicas, é a internet que tem sido a via de escape das transações fraudulentas. "No comércio eletrônico, o tíquete médio costuma ser maior, de R$ 200, chegando a R$ 300 no caso dos eletroeletrônicos."
Apesar de as fraudes no Brasil envolverem cifras relativamente maiores, isso não significa prejuízos para o cliente. Em 46% dos casos os donos de cartões comprometidos no país citam que foi ponto de satisfação o fato de a instituição financeira identificar a fraude antes deles ou perceber rapidamente que havia algo errado durante o monitoramento das transações. A rapidez do reembolso (no caso de cartão de débito) ou do estorno da compra (no crédito) das quantias desviadas foi relatada por 36% dos entrevistados na pesquisa que qualifica o atendimento dos bancos num evento de fraude.
Os investimentos das instituições financeiras na área de segurança eletrônica, com aperfeiçoamento dos modelos de rastreamento de fraudes é que estão por trás de tal percepção, afirma o executivo da ACI. "Tem banco que já consegue identificar a fraude independentemente do canal, com redes neurais que aprendem o hábito do cliente de fazer a transação."
Conforme exemplifica, esses sistemas inteligentes são capazes de armazenar informações como o período do mês em que um correntista paga suas contas, quantos saques ele faz por semana e se ele sempre faz a transferência de determinada fatia de seu salário para uma outra conta. Qualquer mudança de comportamento acende o alerta.
Apesar de investirem quase R$ 2 bilhões anuais em segurança eletrônica, os bancos contabilizaram prejuízos de R$ 942 milhões com fraudes eletrônicas no ano passado (o que inclui cartões, internet e caixas eletrônicos), sendo 22% só no "internet banking", por invasão de contas. No bolo geral, o cartão de crédito é que responde ainda pela maior parte das perdas sofridas pelas instituições financeiras, com fatia de 49% dos R$ 942 milhões, tanto no mundo físico quanto no virtual.
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