29 de mar. de 2011

CARTÃO DE LOJA CRESCE 16%

jornal Diário do Comércio 28/03/2011 - Rejane Tamoto

Alavancada pelo consumo da classe C, a emissão de cartões próprios de lojas – os private labels – cresce em ritmo mais acelerado do que a de cartões de crédito, embora essa relação se inverta quando o assunto é o aumento de faturamento de ambos. Especialistas e entidades do setor acreditam na convergência do private label com o cartão de crédito no futuro.

De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), no acumulado deste ano o faturamento dos cartões de crédito cresceu 18% e o dos cartões de loja, 16%, em relação a igual período do ano passado. O faturamento do setor de cartão de crédito foi de R$ 313,7 bilhões em 2010, ou cinco vezes maior que o de private label, que atingiu a cifra de R$ 68,5 bilhões. Segundo a Abecs, o faturamento total do setor, contabilizando as modalidades private label, crédito e débito, foi de R$ 541,9 bilhões.

Os cartões próprios de loja superam os de crédito em número de emissões. Em 2010, foram 225,3 milhões de plásticos ou 15% acima do apurado em 2009. O crescimento na emissão de cartões de crédito simples, no mesmo período, foi menor, de 13%, e totalizou 153,3 milhões.

Para a analista da consultoria Lafis, Thais Virga, o crescimento registrado e a expectativa de manutenção dessa alta já eram esperados não só em função do aumento do poder de consumo da classe C, mas também devido ao movimento de substituição dos carnês pelo pagamento com cartões, nos últimos três anos. "O varejo tenta recuperar o mercado de financiamento por meio do private label", diz. O que é confirmado pelo professor do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA), Nelson Beltrame. "O cartão próprio não é mais só fidelização. É um bem financeiro", acrescenta. Segundo projeções da Lafis, o cartão private label deve crescer mais e atingir cerca de 295,3 milhões de unidades em 2012, ante a projeção de 196,6 de emissões de cartões de crédito.

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, haverá cada vez mais lojas oferecendo cartões próprios, inclusive as médias e pequenas. Segundo ele, os bancos estão de olho no filão de consumidores da classe C. Isso porque o private label se tornou uma forma de as instituições financeiras travarem os primeiros contatos com o público ainda fora do sistema.

Gerador – Este é o caso do Banco Gerador que há três meses implementou cartões private label em 50 supermercados localizados em bairros periféricos ou municípios rurais de Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba. Cada supermercado indica ao banco os clientes com bom histórico de pagamento. O banco emite o cartão e entrega ao comerciante uma máquina específica para as transações.

Segundo o diretor do Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, o cartão tem a marca do antigo banco Banorte e as mesmas funções de um cartão de crédito, com a exceção de ser aceito em um único estabelecimento. O consumidor gasta, em média, R$ 250 por mês, e faz o pagamento em 30 dias, podendo, ainda usar a opção do pagamento mínimo. "O risco de inadimplência é baixo porque a compra é repetida. O cliente tem o crédito para adquirir itens de higiene e de alimentação apenas em um supermercado", explica o diretor.

Dalla Nora afirma que assinou 200 contratos com supermercados de pequeno porte para emissão desse tipo de cartões. "A cada semana instalamos o sistema em três supermercados. Vamos avaliar os hábitos de consumo, de inadimplência e de pagamento desse público nos próximos dois anos. O objetivo é ter uma carteira forte para negociar no mercado ou mesmo transformar o cartão em bandeira", diz o diretor.

Segundo ele, metade dos 1,5 mil consumidores que possuem os cartões não têm conta em banco e 70% não têm nenhum tipo de cartão de crédito. "Para essas pessoas, é o primeiro instrumento de crédito e uma oportunidade de comprar. Para o lojista, é a fidelização do consumidor", afirma.

Híbrido – Para o diretor da Abecs, Eliel Almeida, a tendência no mercado é o cartão private label híbrido – ou co-branded – um cartão próprio de loja com bandeira (como Mastercard e Visa, por exemplo), que seria um passo à frente do modelo atual. "O híbrido é o futuro porque a procura por crédito saiu do ambiente do banco e foi para o varejo. Para o cliente a vantagem é que pode usar um plástico aceito não só no supermercado, mas no posto de combustíveis no hotel, no restaurante", diz.

Segundo o diretor, os bancos negociam parcerias com lojistas que incluem taxas de pagamento para as bandeiras até 50% menores. O varejista também recebe uma participação no resultado dos financiamentos realizados no cartão híbrido. "O percentual desta operação é negociado entre o banco e a loja, caso a caso", afirma.

VEJA A DIFERENÇA

Cartão de crédito: meio de pagamento eletrônico que possibilita ao portador adquirir bens ou serviços, pelo preço à vista, nos estabelecimentos credenciados e realizar saques de dinheiro em caixas eletrônicos habilitados. O pagamento ocorrerá na data de vencimento da fatura.

Cartão de loja: meio de pagamento emitido por estabelecimentos comerciais ou por emissores, com função semelhante ao do cartão de crédito, sendo seu uso restrito à rede de lojas emissora do cartão. Também é utilizado para pontuação e programas de fidelização de clientes.

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