2 de nov. de 2011

SAÚDE FINANCEIRA É TER AS CONTAS EM DIA

jornal Diário do Comércio 17/10/2011 - Rejane Tamoto
A dona de casa Priscila Adriana da Silva Oliveira e seu marido Ewerton Pereira Ferreira, ambos de 30 anos, têm uma vida financeiramente nova a partir de hoje: ela renegociou uma dívida e teve seu nome limpo depois de dois anos e ele se tornou um Microempreendedor Individual (MEI). Eles conseguiram regularizar as finanças e reconquistar a credibilidade no evento Acertando suas Contas, promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e Boa Vista Serviços (BVS), em parceria com a Cantarino Brasileiro Comunicação, no Centro Educacional Unificado (CEU) Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, entre sexta-feira e ontem.
A abertura oficial do evento contou com a presença de Rogério Amato, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), de Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, de Bruno Caetano, diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), de Marcos Cantarino, diretor da Cantarino Brasileiro de Comunicação e de Natanael Miranda dos Anjos, secretário do Microempreendedor Individual (MEI) da Prefeitura de São Paulo. Na ocasião, eles entregaram uma placa comemorativa para a comunidade.Para Amato, o movimento Acertando suas Contas permite que as pessoas recuperem seu nome e, junto com isso, a dignidade e credibilidade. O resultado é uma perspectiva positiva de consumo e de formalização. "O MEI é uma conquista da ACSP, é a carteira de trabalho do empreendedor. Quem entrou no evento com dívidas, saiu com o nome limpo e, ainda, com sua atividade econômica formalizada. Ele tem a chance de progredir e de mudar não só a sua vida, como a de toda a sua família. Em suma, é um ganha-ganha porque beneficia a todos, consumidores e empresas", diz.
Durante o evento, Casas Bahia, Banco Ibi, Eletropaulo, Banco do Brasil e Sabesp ofereceram descontos para a renegociação de dívidas que, segundo os consumidores, variaram de 50% a 90% dependendo de cada empresa. Em três dias, 6 mil pessoas passaram no CEU Paraisópolis, espaço onde houve atividades para as crianças, como pinturas e cortes de cabelo gratuitos pelo instituto Embelleze. Ao todo, 2.532 consumidores fizeram consultas no balcão do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), da Boa Vista Serviços, da ACSP, que publica este Diário do Comércio. No total, 1.532 pessoas foram encaminhadas para renegociação com as empresas participantes.

A ação possibilitou aos moradores do bairro a oportunidade de ficarem com as contas no azul e o nome limpo para começar a fazer as compras de Natal. "O objetivo é recuperar esses consumidores para que possam voltar a comprar dentro de outra expectativa. Por isso, promovemos treinamentos em finanças pessoais e domésticas para que eles possam usar o crédito de forma sustentável e se tornarem consumidores positivos. Nas palestras mostramos a importância de ter uma reserva ou para evitar a inadimplência em caso de imprevistos, como doença na família e desemprego. Nossas pesquisas mostram que 60% dos que estão no SCPC não tem poupança", afirmou Dourado, presidente da Boa Vista Serviços. Segundo ele, o próximo Acertando suas Contas será realizado no Vale do Anhangabaú, do dia 28 de novembro a 4 de dezembro.

"Estamos planejando mais eventos como esse em outras comunidades da Capital, em cidades do interior paulista e em outros estados", disse Dourado.

Segundo pesquisas do SCPC, existem 33 mil registros de inadimplência em Paraisópolis, onde residem cerca de 100 mil habitantes. Os números de registros, porém, não correspondem ao de pessoas, pois um mesmo consumidor pode ter mais de um registro no sistema. Segundo Marcos Cantarino, da Cantarino Brasileiro de Comunicação, o evento é uma forma de aproximar também os bancos dos consumidores da comunidade.

O gerente do Banco do Brasil de Paraisópolis, Paulo Laverde, conta que a agência inaugurada em novembro do ano passado congrega 1,3 mil contas-correntes na região. Para ele, o evento é mais uma oportunidade para divulgar também o Microcrédito Produtivo Orientado (MPO), já que o bairro tem cerca de oito mil estabelecimentos comerciais. Nos dois primeiros dias de evento, de 100 correntistas atendidos pelo banco, 30% renegociaram débitos e 60,7% levaram propostas para serem concluídas no início desta semana.

Antes de acertar as contas, o programador Adilson da Silva Mota, de 40 anos, assinou um termo de autorização para entrar no Cadastro Positivo, disponibilizado na Cartilha do Orçamento Doméstico, da Boa Vista Serviços e no site www.consumidorpositivo.com.br. "Quero mostrar que minha família consome bastante e paga as contas no vencimento. Às vezes consigo antecipar pagamentos. Espero que isso ajude a termos juros menores nos parcelamentos no futuro", afirmou.

O casal Flávio da Silva, de 20 anos, e Rosicleide Conceição Almeida, de 23 anos, o evento. Eles renegociaram um débito de R$ 1.131 com o Banco Ibi por R$ 628,80. "Vou quitar a dívida nesta semana em que começo a trabalhar no novo emprego", diz Flávio, que é ajudante de cozinha e receberá um salário de R$ 749 por mês. Ele diz que tudo começou em dezembro, quando a esposa Rosicleide comprou roupas para a passagem do Ano Novo. Em seguida, veio o desemprego e o plano agora é concentrar esforços para terminar de construir a casa própria.

Quem também regularizou as finanças depois de arranjar um novo emprego foi a auxiliar de limpeza Luciene Pedreira Soares, de 33 anos. "Eu trabalhava como diarista e não consegui pagar a conta de água por 20 meses porque tenho três filhos e muitas despesas. Ao todo, devia R$ 4 mil e agora vou pagar R$ 290", afirmou. A Sabesp, por meio da assessoria de imprensa, disse que o evento foi positivo e que gerou 100 negociações e 20 solicitações de serviços.

A dona de casa Priscila, mencionada no início desta reportagem, disse que passou dois anos sem comprar no crediário por causa do não pagamento das prestações de um fogão de seis bocas. "E comprar tudo à vista é difícil quando se tem três filhos e muitos gastos com roupas e alimentação. A dívida, que era de R$ 411, ficou em R$ 200", contou. Ela diz que emprestou o nome para a compra do fogão, que ficou com seu ex-marido e a lição que tirou dessa história é que não vale a pena fazer isso para ninguém. "Nem para parente", afirmou. O plano agora é terminar de construir a casa própria e voltar ao crediário para mobiliá-la. "Vou sair do aluguel e comprar cama, fogão, tudo novo", planeja.

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