jornal Valor Econômico 16/03/2011 - Mauro Arbex
De olho no forte crescimento das vendas de automóveis, que vem a cada mês batendo novos recordes, as seguradoras investem em produtos ainda pouco usuais no Brasil, mas que vêm atraindo, pouco a pouco, o interesse dos consumidores. Seguros de automóveis diferenciados, com preços até 50% mais baratos, garantia estendida, que cobre até dois anos além dos 12 meses oferecidos pela fábrica, e proteção financeira nos financiamentos de veículos vêm ganhando espaço no mercado e são apostas principalmente das companhias estrangeiras.
O filão ocupado por esses produtos ainda é pequeno, se comparado aos seguros tradicionais de automóveis, mas é uma nova frente de atuação com boas perspectivas. No ano passado, a arrecadação em prêmios dos seguros de veículos foi em torno de R$ 15 bilhões, enquanto a garantia estendida não passou de R$ 51 milhões, conforme dados da confederação nacional das empresas de seguros, a CNSEG. O crescimento da garantia estendida no ano passado, porém, chegou a 90%, o maior do segmento de veículos, ao passo que o seguro tradicional aumentou 14%.
A francesa Cardif, controlada pelo grupo BNP Paribas, e as americanas Assurant e Indiana oferecem há alguns anos esses tipos de apólices. "O mercado de automóveis teve um ano excelente em 2010. Acompanhamos esse desenvolvimento porque temos produtos específicos para esse mercado", afirma Alexandre Boccia, presidente da Cardif. Embora a proteção financeira (que cobre as prestações em caso de desemprego, morte ou invalidez) ainda seja o carro-chefe da Cardif, com 50% do volume de prêmios da empresa, as principais apostas da seguradora são a garantia estendida e um produto lançado há pouco mais de um ano e que está saindo agora da fase piloto, o Autofácil.
"Temos atuado historicamente junto às classes C e D, com um poder de compra menor. Por que não oferecer, então, um seguro de automóvel mais simples?", questiona Boccia. O Autofácil foi lançado há um ano e meio e cobre apenas o roubo do veículo. A apólice não dá cobertura contra colisão ou terceiros, por exemplo. Em compensação, o custo é cerca de 50% mais barato em relação aos seguros tradicionais, não tem o perfil da pessoa nem franquia e pode ser pago mensalmente, nos cartões de crédito ou débito. É obrigatório no Autofácil o uso do rastreador, fornecido pela seguradora.
As vendas ainda são modestas, cerca de 2 mil a 3 mil apólices por mês, mas a Cardif, após uma fase de experiência em São Paulo e Salvador, está ampliando a venda a todo o país e feito campanha junto aos corretores para oferecer o produto aos consumidores. Segundo Boccia, atualmente apenas um terço da frota de automóveis do país, que supera 35 milhões, tem seguro. "O Autofácil não é para essa parcela. É para os outros 66%, cerca de 20 milhões, que não têm cobertura. É para quem não tem seguro e não tinha carro."
A americana Assurant busca, com a garantia estendida, reproduzir em parte a cobertura dada pela fábrica. Em geral, a apólice garante um ou dois anos adicionais, além do primeiro oferecido pela fábrica. A Assurant começou a comercializar o produto há três anos. Em 2009, faturou R$ 4 milhões em prêmios, 2,5% da carteira total. No ano passado, triplicou as vendas, para R$ 15 milhões. "No último trimestre do ano passado, a garantia estendida já representava 10% de nossa carteira", afirma Ricardo Fiuza, presidente da Assurant Solutions Brasil. A seguradora faturou em prêmios em 2010 R$ 292,7 milhões, expansão de 27% comparado aos R$ 227 milhões de 2009.
O seguro de garantia estendida não cobre colisão nem roubo. A exemplo da fábrica, atende no caso de defeitos mecânicos, hidráulicos e elétricos. Uma quebra de suspensão, por exemplo, está coberta.
A seguradora americana Indiana, líder no mercado de garantia estendida no Brasil, também é otimista com o potencial de crescimento dessa apólice. Há 10 anos com esse produto em carteira, Russo reconhece que o interesse do consumidor só começou há cerca de três anos, como reflexo da chegada de montadoras estrangeiras ao país, que passaram a oferecer garantias de até cinco anos, lembra Paulo Russo, diretor para o canal concessionárias da Indiana.
"Foi a partir daí que o movimento cresceu na rede de concessionárias", diz. A Indiana faturou em prêmios no ano passado com a garantia estendida R$ 18 milhões, incremento de 80% em relação aos R$ 10 milhões de 2009. A carteira total da seguradora, na qual o seguro convencional de automóveis representa quase 90%, chegou a R$ 370 milhões, expansão de cerca de 15% em comparação aos R$ 320 milhões de 2009.
A Indiana trabalha, no seguro de veículos, apenas nas concessionárias, 1.200 espalhadas pelo país, para todas as marcas de veículos. Russo vê enorme potencial para a garantia estendida no Brasil, onde ocupa hoje menos de 1% do mercado. "No México, tem 25% de penetração em vendas no segmento de automóveis; nos EUA, cerca de 23%", afirma o diretor da Indiana. Ele estima que em três anos possa chegar no Brasil a 5% a 7% de penetração na carteira de veículos.
(Colaborou Aline Lima)
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