jornal DCI 18/03/2011 - Andréia Henriques
Conciliação: com ela todo mundo ganha. A máxima, que já foi slogan de uma das campanhas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é cada vez mais a aposta de escritórios e instituições financeiras para recuperar, por meio de soluções alternativas, créditos concedidos às pessoas físicas e jurídicas. Eventos de conciliação já entraram na rotina dos bancos do País, que fogem da Justiça para conseguir de volta, em menos tempo, parte do dinheiro emprestado, muitas vezes em casos já dados como perdidos.
Segundo Leonardo Coimbra, do Coimbra e Bueno Advogados, os bancos e instituições financeiras estão muito flexíveis na hora de fazer os acordos. "Quem tem dívida, pode procurar o credor que tem negócio. Há várias políticas de redução e são possíveis descontos e parcelamentos. Os bancos estão abertos e muito flexíveis", afirma o advogado.
As vantagens são muitas, para os dois lados. Os devedores conseguem boas reduções, que variam de acordo com a política de cada banco. Coimbra, que não deu detalhes das negociações, afirmou que não é possível divulgar uma média dos descontos por conta de cláusulas de confidencialidade que mantém com as instituições financeiras. Mas adiantou que é feita uma composição de forma que a renda do devedor não seja comprometida. "Os bancos tomam cautelas para que seja possível honrar os pagamentos", diz Coimbra.
Os nomes dos devedores vão para os cadastros de inadimplentes, mas após o pagamento da primeira parcela do acordo o nome já fica limpo - inclusive para tomar novos créditos.
Além disso, a maioria dos casos já é cobrada na Justiça e a negociação extingue também os processos, o que dá possibilidade de empresas se restabelecerem no mercado financeiro e desobstrui o já bastante congestionado Judiciário.
Caso o acordo não seja cumprido, ele volta a ser cobrado judicialmente, em paralelo à cobrança amigável realizada pelo escritório, do Grupo Cercred, empresa de cobrança bancária. É possível realizar novas conciliações mesmo após o não pagamento da primeira. "O banco não quer ir à Justiça. Ele quer receber o que emprestou e da forma mais rápida", diz o especialista.
A recuperação de créditos, principalmente os mais antigos, é o chamariz para os bancos, que devem continuar investindo na conciliação após a grande expansão no ano passado e ainda. "Além de recuperar créditos difíceis, os bancos resgatam um cliente para o banco", afirma Coimbra. Ele dá como exemplo da flexibilização adotada pelos bancos o fato de muitos terem suspendido as cobranças no Rio de Janeiro após as catástrofes na região serrana ocorridas no início do ano. "A abundância de crédito no mercado precisa de um tomador e os bancos investem em uma política diferenciada".
Coimbra acredita que as conciliações vão continuar mesmo após as medidas anunciadas pelo Banco Central no fim do ano passado para restringir o acesso ao crédito para pessoas físicas. "A tendência é que elas continuem acontecendo e sejam diretrizes dos bancos, até porque primeiro veio o crédito, que teve o boom em 2009 e 2010, e só depois vem a inadimplência, que está sob controle por causa da economia forte", diz. Segundo o advogado, a inadimplência está crescendo proporcionalmente ao aumento de crédito.
A tendência forte já traz impacto para os escritórios. Só no ano passado, com um boom de conciliações, o Coimbra e Bueno - eleito, pelo Itaú, o escritório de recuperação de crédito número um nas Regiões Norte, Nordeste e Espírito Santo em 2010 - cresceu 56% no número de ações de cobrança distribuídas em relação a 2009. Na recuperação efetiva de recursos para os clientes, houve um crescimento de 270% e um resultado de R$ 5 milhões recuperados em eventos de conciliação. Para 2011 é esperado um crescimento de pelo menos 30% no estoque de ações ativas e passivas na matriz no Rio de Janeiro e nas outras 21 filiais, que contam com um total de 300 advogados.
O escritório investiu até em eventos de conciliação. Feitos para cada cliente e com foco em determinadas regiões ou faixas etárias, eles servem para resolver os débitos de forma diferente, o que já foi testado também por órgãos como SPC e Serasa. "Alugamos salas de hotéis, fora do ambiente da assessoria de cobrança dos bancos. Todas as partes estão presentes os resultados são maximizados", diz Coimbra.
Os eventos são feitos, para cada cliente, pelo menos duas vezes por ano - para o primeiro semestre já estão agendados diversos encontros, em campanhas pontuais dos bancos, que podem até mesmo fazer análises para identificar locais ou faixas econômicas de com maior falta de pagamento, dependendo da política de cada banco.
Cerca de 80% dos casos conciliados pela banca são referentes a pessoas físicas, mas a conciliação para empresas pode crescer.
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