jornal DCI 01/08/2011 - Marcelle Gutierrez
Depois do rombo de R$ 4,3 bilhões do PanAmericano divulgado em novembro de 2010, o sistema bancário nacional iniciou processo de prevenção às novas crises. A resolução aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o registro de venda e compra de carteiras entre bancos surge para validar e fortalecer o processo que, na opinião de especialistas, dá segurança e transparência às operações.
A partir de 22 de agosto, as cessões de crédito referentes a consignados e financiamento de veículos deverão ser registradas, pelo cedente e cessionário, em sistemas de registro e de liquidação de ativos autorizados pelo Banco Central. A resolução também determina que as instituições financeiras tenham diretor responsável pelo registro e pelo controle.
Na opinião de Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a decisão do CMN já era esperada para a diminuição de riscos sistêmicos. "O mercado já trabalhava com a obrigação do registro pelo cessionário. A resolução valida o que já vinha sendo feito."
Oliva explica que, depois do rombo do PanAmericano, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) convocou associações do setor e instituições financeiras para colocar no ar a Central de Cessão de Crédito (C3), que consiste em um sistema de registro na Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), ligada à Febraban, das informações das carteiras vendidas. A C3 deve ser finalizada nas próximas semanas.
Para Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e professor da FEA-USP, a regulamentação oferece segurança ao sistema financeiro, com regras e transparência para evitar crises e intervenções do BC que causam incertezas no mercado. "Desde que não corte as operações financeiras, sou favorável à regulamentação."
A captação de recursos nos bancos de pequeno e médio porte é basicamente sustentada pela cessão de carteiras de crédito a grandes instituições financeiras. Contudo, depois da divulgação de problemas de qualidade e de gestão, alguns bancos diminuíram a dependência destas carteiras. "Algumas instituições montam carteiras não muito boas e com falta de controle, o que acaba em uma coisa perigosa e em quebra de bancos", explicou Grisi.
Na divulgação do balanço dos resultados referentes ao primeiro semestre de 2011, o Santander Brasil divulgou que, em consignado, o ramo que apresenta maior crescimento é o direto, isto é, sem a compra de carteiras. "Não temos comprado nesse trimestre dos bancos médios, porque preferimos fazer direto pela nossa rede de distribuição. Eu diria que o problema [PanAmericano] ajudou a direcionar a decisão", declarou Marcial Portela, presidente do Santander Brasil.
Para Portela, o cenário atual também não está muito favorável para esse tipo de negócio. "Quando há compra de carteiras, os clientes não estão conosco. Além disso, os pequenos também estão menos ativos, mais fora do mercado. Acredito, sim, em uma consolidação do mercado [bancos médios]."
O presidente da ABBC, associação que representa os bancos médios, Renato Oliva, acredita que a aquisição de carteiras é rentável e essencial para a economia. "A vantagem para o banco que faz a aquisição é a compra de uma carteira com rentabilidade de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) mais 20% ao ano. Para a tesouraria da instituição é um ótimo negócio. Já a área comercial fica responsável pela busca de clientes."
Segundo Oliva, os bancos que possuem maior participação de mercado devem fornecer retorno financeiro ao acionista e contribuir para o desenvolvimento do sistema financeiro . "Um grande banco tem o papel de preservar a fluidez e a competitividade do mercado. Se eu fosse um grande banco, compraria carteiras para aumentar a fluidez do mercado."
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmou, durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre, que o banco continua a efetuar a compra de carteiras de crédito de bancos de menor porte. "Não paramos de fazer este tipo de operação, até por ser interessante também para o Bradesco. Tudo continua normalmente."
Para o presidente do Bradesco, a consolidação que já ocorre entre as instituições de médio e pequeno porte, principalmente neste ano, antes de ser uma oportunidade é um movimento saudável para o sistema. "Acredito que o fortalecimento desses bancos contribui para a saúde do setor bancário. A competição é sempre bem-vinda."
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