jornal DCI 18/08/2011 – Agência Estado
Dirigentes de bancos afirmam que o nível da Selic é um dos principais agentes influenciadores do spread bancário, visto por especialistas como dos mais elevados do mundo. Um estudo realizado por uma autoridade do Banco Central, contudo, apontou que esta tese não se baseia em fatos. É o que mostra o trabalho Determinantes do Spread Bancário Ex-Post no mercado brasileiro, realizado por Lucio Capelletto, chefe do departamento de monitoramento do sistema financeiro e gestão da informação do BC.
O documento analisou os balancetes de 196 instituições entre janeiro de 2000 e outubro de 2009 e utilizou como metodologia um modelo de regressão com dados em painel dinâmico.
A pesquisa avalia se o spread bancário é positivamente relacionado com a taxa básica de juros da economia. Segundo o estudo de Capeletto, é esperada uma relação positiva entre a taxa básica e o spread ex-post, de forma equivalente ao que mostram estudos sobre spread ex-ante. No entanto, os testes não encontraram significância estatística na variável Selic.
"A contradição em relação aos achados dos estudos que avaliam o spread ex-ante pode ser explicada pelo fato de que o impacto de uma mudança na taxa básica de juros deve ser imediatamente refletido na definição da taxa de juros, mas o reflexo na medida do spread ex-post não se dá tão imediatamente assim, tendo em vista que a apuração se dá a partir do estoque de créditos, com operações contratadas antes dessa eventual modificação na Selic", destacou Capelletto, no estudo.
"Uma mudança das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, em razão de uma mudança na Selic, é capturada na medida ex-ante imediatamente, enquanto na ex-post o efeito não é tão imediato e nem de forma completa, por ter relação direta como estoque da carteira. É afetada, portanto, pelas decisões de crédito tomadas no passado", aponta.
Outra revelação do trabalho de Capelletto é que também não há relevância estatística do custeio administrativo para explicar o spread bancário ex-post. Esta constatação, segundo o autor, "contraria argumentos frequentemente expostos pelos representantes das instituições bancárias de que seria fator importante no grau de determinação do spread." Segundo o autor, não há significância estatística na relação entre receitas de prestação de serviços e despesas administrativas de cada instituição financeira.
De acordo com o autor, os testes mostram que há significância estatística sobre o spread ex-post do risco de crédito da carteira de cada banco, da participação relativa da instituição no mercado de crédito, do grau de concentração de mercado de crédito e do nível de crescimento da economia.
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