29 de ago. de 2011

REDECARD E CIELO CONCENTRAM BRIGA DE MAQUININHAS

jornal Brasil Econômico 24/08/2011 – Flávia Furlan

Passado mais de um ano da abertura do mercado de credenciamento de cartões no Brasil, com o fim da exclusividade das bandeiras em julho do ano passado, as veteranas da adquirência sentem os reflexos em seus resultados. A Cielo registrou no segundo trimestre deste ano redução de 7,5%no lucro líquido, frente ao mesmo período de 2010, para R$ 423,6 milhões. A concorrente Redecard, por sua vez, viu o lucro líquido cair quase 14% na mesma base comparativa, para R$ 322,6 milhões.

A justificativa está na redução do aluguel cobrado do varejo para uso das máquinas de cartões. Na Redecard, a taxa de desconto cobrada dos estabelecimentos registrou queda de 1,43% no segundo trimestre do ano passado para 1,15% no mesmo período deste ano. “Isso é fruto da abertura do mercado e aumento da competitividade. Essa taxa de 1,43% era praticada em um cenário diferente, em que se trabalhava com exclusividade”, diz o diretor-executivo de Finanças da Redecard, Marcelo Kopel.

As perdas no balanço se dão muito mais pela concorrência entre essas empresas veteranas do que pela entrada de novos competidores no mercado. Dados do Barclays mostram que, no primeiro trimestre, as demais concorrentes tinham7,7% de participação na receita com cartão de crédito, o que passou a 8,1% nos três meses seguintes. “Quem está efetivamente operando é o Santander”, afirma o diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Rômulo Dias, sobre novas concorrências.

Além disso, Hypercard e American Express têm um modelo em que o credenciamento se dá junto coma emissão e, além destes agentes, Global Payments e Elavon já anunciaram ingresso no mercado, embora não tenham começado a operar. “De qualquer forma, essa redução do lucro líquido das duas principais se deu por uma maior competição, que afetou a taxa de desconto”, avalia Dias, para quem o mercado de credenciamento é concentrado no mundo todo devido à dificuldade de se chegar aos lojistas a um custo eficiente. “Há espaço para muita gente no mercado no Brasil, mas já foi anunciado um bom número de competidores.”

Para o presidente da consultoria em varejo financeiro Boanerges e Cia., Boanerges Ramos Freire, a dificuldade das empresas em entrar no mercado de credenciamento é que exige escala e tamanho. “É difícil começar pequeno porque a escala é fundamental para ter custo mais baixo e conseguir negociar com fornecedores, bandeiras e com os lojistas”, diz.

Ele pondera que é claro que os veteranos perdem participação de mercado com novos entrantes, mas que vai ser difícil surgir um terceiro com tal porte “do dia para a noite.” As próprias bandeiras se encarregam de limitar os novos entrantes. Segundo Freire, o critério principal delas para se aliarem a uma credenciadora é o volume da empresa. “Não adianta ter rede se não tem usuário.”

Para Antonio Castillo, presidente da Elavon no Brasil e na América Latina—credenciadora que atua em 30 países e está montando escritório no Brasil —, a alta exigência das bandeiras é positiva porque elimina do mercado os aventureiros. “As bandeiras são criteriosas para evitar que alguém que não tenha condições de operar, com volume e escala necessários, entre no mercado”, avalia.

Para Darcila Cezar, superintendente da unidade de cartões do Banrisul, que abriu sua rede de credenciamento a outras bandeiras, o desafio é mudar a cultura do varejista, acostumado com o modelo antigo do setor.

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