jornal Brasil Econômico 18/08/2011 - Simone Cavalcanti
A cautela na concessão de crédito pelas instituições financeiras em um ambiente internacional incerto pode levar o ritmo de crescimento das carteiras a ser até inferior ao que o Banco Central esperava para este ano, entre 13% e 15%. Segundo o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, a velocidade da expansão pode recuar dos 20%, em 2010, para 10%dependendo dos desdobramentos da nova fase de turbulência. Ainda assim, define o cenário que traça como não pessimista, já que a inadimplência deve subir nos próximos meses mas de maneira comedida. “É difícil imaginar um cenário dramático para a inadimplência.”
Qual o panorama traçado pela Febraban para a economia brasileira com a turbulência internacional?
Meu cenário é mais benigno. Não trabalho com rupturas no curto prazo, crises bancárias, nem acho que haverá o “duplo mergulho”. A economia americana tem flexibilidade para se ajustar. Terá uma recuperação mais lenta, mas sem estagnação pronunciada. No caso da Europa, sou menos otimista. A solução não é fácil, passa por digerir todas as dívidas.
Mesmo que a França seja contaminada?
Acho que essa contaminação é pouco provável. Haverá uma resposta de sustentação no sentido de não deixar nenhum dos bancos importantes quebrar.
E o resultado?
Baixo crescimento, recuperação lenta, alguns momentos de mais tensão, de volatilidade, mas não de ruptura. No Brasil, a economia crescerá um pouco menos, por volta de 3,5%, haverá desaceleração moderada da expansão do crédito, entre 10% e 15%, o que ajudará no controle de inflação. E a inadimplência deve subir, mas não de maneira acentuada, pois continuamos com a atividade aquecida, nível de desemprego baixo e expectativa de ganhos salariais. É difícil imaginar um cenário dramático para a inadimplência.
Mesmo assim os bancos estão mais cautelosas na concessão?
Crédito mais seletivo em um cenário como este é normal. Os bancos tendem a reposicionar suas estratégias. Ainda que o Brasil esteja em um nível melhor do que lá fora, a preocupação leva naturalmente à redução de oferta. Pesquisa que fizemos antes do agravamento da crise deu expansão das carteiras na faixa de 16%, caindo em relação a 2010. A expansão vinha acima da esperada pelo Banco Central, que era entre 13% e 15%. Provavelmente na nova pesquisa teremos recuo maior.
Os bancos públicos precisarão atuar mais fortemente?
A probabilidade é que seja menos necessário pois a retração pode não ser tão severa. Temos agora um prolongamento da crise de 2008, mas é uma fase menos aguda. Não acho que haverá parada brusca e interrupção do fluxo de recursos como antes.
Uma retração dos bancos estrangeiros no Brasil está contemplada?
O fato de os bancos estrangeiros terem um papel pequeno na economia brasileira significa que os riscos de impacto são pequenos.
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