24 de ago. de 2011

CENÁRIO EXTERNO LEVA À REVISÃO DE CARTEIRAS DE CRÉDITO

jornal Brasil Econômico 22/08/2011 – Simone Cavalcanti

A atual conjuntura veio a calhar, ao menos para os planos do Banco Central na direção de arrefecer as concessões de crédito no país. A continuidade do crescimento robusto dos financiamentos, no patamar de 20%, era uma das preocupações da autoridade monetária desde o início deste ano. Isso porque, mais dinheiro em circulação sustenta uma demanda por bens e serviços que não encontra respaldo na oferta interna, o que abre espaço para aumento de preços. Esse cenário colocava lenha na fogueira, principalmente em um ano no qual a inflação em 12 meses tem orbitado pela banda superior da meta, de 6,5%.

Aliadas às medidas de política monetária, cujos efeitos estão em curso, as incertezas na cena internacional são mais um forte ingrediente para que as instituições financeiras revejam as estimativas para a expansão de suas carteiras. Segundo João Augusto Salles, economista da Consultoria Lopes Filho, o Bradesco já estima um aumento entre 15% e 19% para este ano ante 23% registrados em 2010. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indica uma elevação média para o sistema financeiro entre 10% e 15%. Essa última estimativa estaria totalmente de acordo com o que o presidente do BC, Alexandre Tombini, prevê como um crescimento para as concessões em 2011 (de 13%a 15%).

Olhando pelo retrovisor, o BC já constatou recuo. Boletim Regional, divulgado na sexta-feira em Porto Alegre, indicou queda de 3,8% no crédito pessoal entre janeiro e junho deste ano em relação ao último semestre de 2010. “Houve moderação nas concessões de empréstimos. Isso significa que o mercado respondeu de maneira adequada ao que esperávamos com as medidas anunciadas pelo banco”, disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, por meio de assessoria de imprensa.

Para o economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES) de Investimento, Jankiel Santos, a conjuntura internacional deve trazer desaceleração expressiva do crédito, mais porque os bancos vão elevar sua cautela nos empréstimos do que em razão da procura dos tomadores, que ainda estão confiantes em obter financiamentos.

Ainda assim, ele diz acreditar que, mesmo que esse cenário de maior arrefecimento esteja em curso, o Banco Central não deve reduzir a taxa básica de juros, a Selic, neste ano. “A desaceleração do crédito ajuda, mas não é suficiente. A inflação em2012 ainda é uma incógnita”.

Reflexos

“Nos últimos quatro anos, houve uma explosão dos financiamentos no Brasil”, disse Salles, lembrando que nem mesmo durante a crise de 2008/2009, com interrupção abrupta das linhas de crédito no mercado internacional, houve impacto nas concessões do país, que cresceram em média 21%. O economista da Lopes Filho ressalta que, no momento, há grande liquidez, mas qualquer sinal de medo de que um banco grande quebre pode trazer de volta as dificuldades vistas há quase quatro anos. “Essa hipótese não é descartável”, enfatizou.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, concorda, mas ameniza: “é claro que há uma apreensão em relação ao estreitamento dos canais de financiamento externos, mas nada que possa ser repetido como antes.”

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