jornal Folha de S. Paulo 30/07/2011 – Eduardo Cucolo
Os bancos privados puxaram o aumento da inadimplência verificado desde dezembro, quando os juros começaram a subir e o governo adotou restrições ao crédito.
Principalmente as instituições estrangeiras que atuam no país, que registraram ainda aumento na reserva de capital contra calote e piora na qualidade da carteira de crédito no primeiro semestre, com redução no percentual de clientes "de baixo risco".
Os nacionais, apesar de terem mantido o nível de provisões, tiveram piora na qualidade das carteiras.
Os bancos públicos, por outro lado, reduziram a provisão contra calotes e ganharam, proporcionalmente, mais clientes com melhor histórico e perfil de crédito.
Segundo dados do Banco Central, a taxa de inadimplência passou de 4,1% em dezembro para 4,8% em junho nos bancos estrangeiros.
Nos privados nacionais, cresceu menos, de 4% para 4,2% na mesma comparação. Nos públicos, o indicador não subiu e continuou em 2%.
Entre os fatores que explicam esse comportamento está o aumento no número de grandes empresas -considerados clientes com risco praticamente zero de inadimplência- que receberam empréstimos de instituições públicas após a crise de 2008.
Pesa ainda a maior parte do crédito do BNDES, que tem inadimplência de 0,15%, ser emprestada diretamente pela instituição ou repassada a clientes por bancos públicos.
MENOS RISCO
Além disso, as instituições estatais elevaram a participação em linhas com baixo risco: crédito com desconto em folha, veículos e imobiliário.
Os financiamentos habitacionais, que foram o centro da crise de crédito nos EUA, atuam no Brasil como um amortecedor do indicador de atrasos, segundo o vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival.
Ele diz ainda que a piora esperada por alguns analistas na carteira dos bancos públicos devido à liberação de recursos após a crise de setembro de 2008 não ocorreu.
Os bancos estrangeiros, por outro lado, têm em suas carteiras percentual maior de micro e pequenas empresas e de empréstimos no cartão de crédito, afirma o economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho.
"São esses segmentos que empurraram a inadimplência para cima", diz Salles.
Além disso, muitos bancos estrangeiros que atuam no Brasil são instituições de menor porte, que ainda apresentam problemas decorrentes da crise global de 2008 e que se agravaram no ano passado, quando o problema do PanAmericano travou a venda de carteiras de crédito.
O presidente da agência de risco de crédito Austin Rating, Erivelto Rodrigues, afirma que alguns bancos estrangeiros ainda não conseguiram mostrar bons resultados no Brasil nem incomodar os líderes de mercado.
Para ele, o fato de a provisão contra calote das instituições privadas, nacionais e estrangeiras, estar mais alta indica expectativa de mais atrasos nos próximos meses.
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