jornal Valor Econômico 28/07/2011 - Daniel Rittner
O Banco Central vê uma "perda" de fôlego da inadimplência e acredita que pode até haver redução das dívidas em atraso no segundo semestre. Interrompendo uma trajetória de cinco altas seguidas, o principal indicador de inadimplência (dívidas vencidas há mais de 90 dias) manteve-se estável em 5,1%, em junho.
"As perspectivas que se desenham são de arrefecimento", avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. Ele apontou ainda que, pelo terceiro mês consecutivo, houve redução ou estabilidade das dívidas de pessoas físicas vencidas entre 15 e 90 dias, uma sinalização da inadimplência futura.
Maciel afirmou que a inflação mais moderada dos últimos meses e a geração de empregos em alta devem servir como freio à inadimplência. Ele descartou o risco de "bolha de crédito" apontado por muitos analistas internacionais e atribuiu essas advertências ao "desconhecimento da realidade brasileira".
Mesmo assim, economistas continuam vendo ameaças na expansão do crédito total na economia do país, que subiu 1,6% em junho e 7,5% nos seis primeiros meses do ano. Na comparação com junho de 2010, o aumento alcançou 20%. Em relatório distribuído ontem aos seus clientes, o Morgan Stanley observou que, "depois de sete meses de medidas macroprudenciais, o crescimento do crédito não apresentou sinais claros de desaceleração, com taxas de aumento ainda acima dos objetivos do governo". Para os analistas do banco, a credibilidade do BC pode ficar em risco caso a expansão do crédito não se desacelere "logo" para o patamar desejado de 15%.
A avaliação não é unânime. Para Eduardo Coutinho, professor do Ibmec, esses números não representam perigo. "Parece que as tentativas de contenção dos empréstimos foram bem sucedidas", disse. Além das medidas macroprudenciais adotadas pelo BC e do ciclo de alta da taxa Selic, o próprio aumento recente da inadimplência fez os bancos ficarem mais cautelosos na concessão de financiamentos novos.
Um dos sinais é a queda de 24,8% na média diária das concessões de crédito para a aquisição de veículos ao longo do primeiro semestre, na comparação com o semestre anterior. À exceção do crédito imobiliário, nenhum outro indicador disparou.
Os financiamentos habitacionais, tanto com recursos livres quanto com recursos direcionados, tiveram o maior ritmo de expansão. Eles totalizaram R$ 167,5 bilhões em junho e tiveram aumento de 3,8% no mês passado, de 20,7% no primeiro semestre e de 50% no acumulado dos últimos 12 meses.
O crédito habitacional deve continuar aumentando, mas esse ritmo não é sustentável e "deve arrefecer no longo prazo", segundo Maciel. Apesar disso, ressaltou o fato de estar ainda em 4,3% do PIB, proporção relativamente baixa em termos internacionais e que está longe de constituir riscos, na avaliação dele. "Era um crédito que estava muito restrito", argumentou.
Em julho, mês para o qual o BC divulgou ontem dados referentes aos nove primeiros dias úteis do mês, as concessões de empréstimos e as taxas de juros praticadas voltaram a subir. Em junho, as concessões de crédito caíram 1,5%. Apesar do ciclo de alta da taxa Selic, os juros diminuíram pela primeira vez em seis meses, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. De 40% em maio, caíram para 39,5% em junho. Mas passaram para 40,2% até o dia 13 de julho. No início do mês, as concessões subiram 0,8% em relação a igual período de junho.
O saldo total de créditos livres e direcionados atingiu R$ 1,834 trilhão em junho. Até 13 de julho, aumentou 1,1% na comparação com igual período do mês passado. O crédito já representa 47,2% do PIB, a maior proporção da série histórica do BC, e a estimativa da autoridade monetária é chegar ao fim do ano com 48%. É um número considerado alto para o Brasil, o que pode despertar questionamentos, mas ainda baixo para padrões internacionais. A relação crédito/PIB terminou o ano de 2009 em 44,4% e subiu para 46,4% ao fim de 2010.
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