jornal Valor Econômico 26/07/2011 - Adriana Cotias, Aline Lima e Carolina Mandl
As estatísticas do crédito imobiliário com o fechamento do primeiro semestre devem mostrar desembolsos da ordem de R$ 37 bilhões só com recursos da poupança, segundo estimativas de mercado. Se esses números se confirmarem, tal cifra vai representar crescimento de 55% em comparação a janeiro e junho do ano passado. Na contagem mensal, porém, espera-se que as contratações mostrem alguma perda de ímpeto. Só em junho, a expectativa é que tenham sido liberados cerca de R$ 7,5 bilhões, uma expansão de 48% contra junho de 2010. O ritmo de expansão de 60% que se observou até abril tende a perder velocidade.
Por trás disso está o menor volume contratado para financiar o mutuário, com os esforços um pouco mais concentrados nas carteiras de pessoa jurídica, que têm giro mais rápido, relacionado ao ciclo mais curto de produção, analisa o diretor de crédito imobiliário do HSBC Brasil, Antonio Barbosa. "Cresceu demais a pessoa física e essa era uma acomodação natural. Por outro lado, nos primeiros meses do ano a liberação de recursos para a construção vinha travando por conta de atrasos nas obras. Essa produção represada está sendo desovada agora."
Segundo calcula, a proporção entre financiamentos destinados ao consumidor final e os endereçados às empresas teria encerrado junho numa relação de 55% para 45%. Historicamente, a distribuição é de 60% para 40%.
Com a poupança, principal fonte de financiamento do setor, perdendo força, a percepção é de que os bancos têm sido mais seletivos. Até junho, as saídas líquidas da caderneta chegavam a R$ 172,7 milhões, em comparação aos R$ 8,8 bilhões captados no mesmo período do ano passado. Em julho, até o dia 19, o saldo estava positivo em R$ 2,9 bilhões, revertendo o balanço negativo do ano, para R$ 2,7 bilhões, mas ainda aquém do ritmo esperado para o ano, de crescimento na casa dos 15% a 20%.
O Banco do Brasil (BB), último dos grandes bancos a entrar no financiamento imobiliário, conta com a vantagem de, por isso mesmo, ter um saldo mais robusto da caderneta. "Enquanto nos concorrentes o saldo da poupança já se aproxima do estoque de crédito imobiliário, nós temos mais de R$ 5 bilhões disponíveis", diz Paulo Caffarelli, vice-presidente novos negócios e varejo do BB.
Mas, ao mesmo tempo em que boa parte das instituições financeiras enfrenta a escassez no lado do "funding", encontra também uma parcela da população mais endividada. "Essa situação diminui o espectro da prospecção, embora a inadimplência siga estável", acrescenta Barbosa, do HSBC.
De 2005 para cá, o crédito imobiliário concedido vinha praticamente dobrando de tamanho a cada ano e é essa velocidade vertiginosa que começa a desacelerar, diz o diretor da Caixa, Teotônio Rezende. "Havia uma demanda reprimida, que foi sendo atendida nos últimos anos num ciclo mais ou menos normal de oferta e demanda. Há ainda muito espaço para crescer, com o aumento do emprego e da renda e dos subsídios para a baixa renda. Se trabalhássemos com a projeção geométrica vista de 2005 a 2007, ninguém teria capacidade para atender."
A Caixa pretende aplicar neste ano pelo menos R$ 30 bilhões, com recursos da poupança, perto dos R$ 27,8 bilhões desembolsados ao longo de 2010. Até maio, o banco federal tinha liberado R$ 11,7 bilhões, com crescimento de 14% em comparação ao mesmo intervalo de 2010.
A atual taxa básica, em 12,5%, pode atuar como um freio à expansão do crédito imobiliário, segundo Fabio Nogueira, sócio da Brazilian Finance & Real Estate (BFRE). "Sempre que isso acontece, muita gente acaba preferindo deixar o dinheiro guardado no banco a investir em um imóvel."
Nenhum comentário:
Postar um comentário