jornal Valor Econômico 20/07/2011 - Aline Lima e Adriana Cotias
Apesar do novo aumento da Selic esperado para hoje, especialistas projetam um desempenho mais vigoroso da oferta de crédito nos próximos meses em comparação com a primeira metade de 2011. Boa parte dos efeitos do pacote de medidas macroprudenciais definidas pelo Banco Central (BC) desde novembro já foi absorvido, especialmente no primeiro trimestre, o que daria fôlego para uma pequena recuperação das concessões.
Economistas da consultoria Tendências projetam uma expansão (deflacionada) do estoque de crédito para pessoas físicas de 7,4% em 2011. Até maio, esse crescimento havia sido de 2,1%. "Nossa expectativa é a mesma desde o início do ano", ressalta Alessandra Ribeiro. A estimativa de crescimento no segundo semestre, embora em ritmo superior ao da primeira metade do ano, apresenta uma ligeira desaceleração em relação a 2010, quando o saldo subiu 12,5% em relação a dezembro de 2009.
Historicamente, o segundo semestre costuma apresentar um ritmo mais forte de concessões de crédito do que o primeiro - à exceção de 2008, quando a relação foi invertida no rastro da crise financeira mundial. Se a tradição for confirmada neste ano, é provável que a expansão nominal do crédito em 2011 supere a estimativa do BC de uma alta de 15%. "O recente aumento de inadimplência e a elevação da Selic poderiam conter um pouco o ritmo das concessões, mas as condições do mercado de trabalho e da economia de modo geral seguem positivas", diz Jayme Alves, economista da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
A elevação de requerimento de capital para empréstimos de longo prazo a pessoas físicas e do recolhimento compulsório, medidas adotadas pelo BC em dezembro, teve efeito imediato no crédito. Segundo Roberta Veiga, economista da Tendências, o pico ocorreu em março, quando a média móvel de concessões para pessoas físicas (calculada com base nos meses de março, fevereiro e janeiro) sofreu queda de 1,7%.
Mas a força de tais medidas acaba sendo reduzida ao longo do tempo. "A concorrência estimula novas concessões e os bancos também acabam se ajustando ao cenário de maior requerimento de capital", observa Alves, da Febraban. Para Cristiano Souza, economista do Santander, as modalidades de fato afetadas foram aquelas alvo da exigência extra de capital - veículos e consignado. "A distorção foi que o consumidor migrou para linhas mais caras, como cheque especial e cartão."
Para a economista Thais Zara, da consultoria Rosemberg & Associados , a maior exigência de capital para operações de veículos e consignado apenas tirou do jogo as instituições menores. "No ano passado, as altas da Selic não surtiam efeito porque a concorrência estava muito intensa e, com as macroprudenciais, o BC limpou alguns canais (da oferta)". Para ela, a resiliência observada até aqui tem relação com a manutenção da renda, do mercado de trabalho aquecido e do ingresso de novos consumidores na economia, que repõem a massa de sobreendividados.
A partir de agora, Thais prevê que as taxas de crescimento fiquem muito próximas das observadas no segundo semestre de 2010. A projeção de crescimento nominal do saldo total de crédito entre 18% e 20% neste ano está mantida. "Qualquer impacto complementar virá pela defasagem do aumento do juro básico", diz.
Depois de um 2010 de expansão robusta, o freio até aqui teve mais relação com a inversão de um ciclo do que com as iniciativas de aperto do crédito, diz o vice-presidente de gerenciamento de risco do Citi, Victor Loyola. "O consumidor está mais endividado e com a inadimplência despontando os bancos estão mais cautelosos."
Wemerson França, da LCA, segue a linha do BC e acredita que o impacto das medidas tende a ganhar força no terceiro trimestre, principalmente por conta do efeito do aumento do compulsório sobre o estoque.
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