jornal Brasil Econômico 25/07/2011 – Flávia Furlan
Quem analisa a expansão do mercado de cartões no Brasil pode acreditar que ele já está próximo da maturidade, já que sustenta avanço de 20% ao ano há cerca de uma década. No entanto, olhando mais de perto essa indústria, ainda há espaço para crescer. “Hoje o cartão não atinge nem 25% do consumo das famílias. Nos Estados Unidos, ele representa mais de 50%”, diz o diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Paulo Rogério Caffarelli.
O mercado tem movido esforços para introduzir o plástico onde antes só se aceitava dinheiro em espécie ou o cheque, a exemplo de táxis e consultórios médicos. No caso dos cartões de crédito, dados da Abecs mostram que o faturamento com serviços e profissionais liberais teve um crescimento de 51% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano anterior, o maior avanço entre todos os ramos de atividade analisados. Isso significa um faturamento de R$ 6,2 bilhões de janeiro a março ou 8% do faturamento total dos plásticos de crédito para o período.
No comércio, Caffarelli aponta como motivos para o dinheiro e o cheque ainda serem muito utilizados o fato de alguns lojistas darem descontos nessas formas de pagamento. “O lojista prefere vender com o cheque quando ele sabe que a folha não vai voltar por falta de fundos porque confia no cliente. Neste caso, ele não precisa pagar a taxa cobrada da indústria de cartões”, completa.
Os cartões também estão conquistando espaço entre os meios de pagamento para serviços públicos. A partir de outubro, o Tribunal Regional do Trabalho do Pará (TRT) inaugura um projeto-piloto para usar máquinas de cartão em sessões de conciliação judicial. A ideia é simples: havendo consenso entre as partes, o pagamento é imediato, assim resolve-se o problema de congestionamento de processos de execução. Até 2012, o Conselho Nacional de Justiça, idealizador do projeto que tem a parceria da Caixa Econômica Federal e da Redecard, espera que a prática esteja em pleno funcionamento em toda a Justiça brasileira.
Apesar de avanços como este, o instrumento ainda não chegou, por exemplo, aos cartórios. “Esse poderia ser um segmento de atuação do cartão, com benefício para toda a sociedade”, diz Caffarelli.
Gastos
Com os plásticos chegando a mais lugares e serviços, o brasileiro tem desembolsado mais através do plástico. Levantamento do Instituto Assaf mostra que, em junho, o valor médio desembolsado foi de R$ 80,10 em transação de cartões, o maior tíquete em 18 meses.
A média crescente se explica no fato de a população estar reunindo as contas na fatura, em busca de planejamento financeiro e dos benefícios nos programas de fidelidade. “O cartão está sendo usado como instrumento de concentração de despesas familiares”, avalia o diretor de cartões do Banco do Brasil, Denilson Molina. Ele pondera que, se por um lado o volume de plástico aumenta, mantém-se a média de um terço de portadores com utilização onerosa do cartão - que não paga no vencimento e tem de arcar com juros. “Esse é um indicador de que o cartão está substituindo outros meios de pagamento sem onerar mais o brasileiro.”
Embora haja uma troca gradual de meio de pagamento e tíquete maior no cartão, Molina diz que boa parte dos consumidores ainda usa cartão apenas para compras mais caras. “Existe um preconceito de parte da população, mais entre as pessoas da terceira idade ou entre as mais conservadoras no trato com as dívidas, que acham que o cartão traz endividamento grande”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário