portal iG 01/12/2010 - Olívia Alonso
Ana Cristina dos Santos, de 38 anos, possui cartões de cinco varejistas e supermercados, mas só usa um deles. “No começo, eu cheguei usar todos, mas agora prefiro pagar tudo só com Visa e Mastercard”, afirma. Assim como ela, outros consumidores brasileiros estão optando por usar apenas os plásticos que são aceitos em todos os lugares, em vez dos customizados. Depois de um boom nos últimos anos, os cartões exclusivos das lojas agora devem avançar em um ritmo mais brando e dar lugar aos chamados “co-branded”, ou híbridos, que levam tanto a marca das varejistas como das grandes bandeiras.
A explosão nos últimos dez anos foi motivada, em parte, pela novidade do crédito parcelado para clientes que não possuíam conta em banco e nenhum tipo de cartão. “Os private label [como são chamados os plásticos customizados] começaram há um tempo como uma porta de entrada”, diz Rômulo Dias, presidente da credenciadora Cielo. Além disso, havia um grande número de varejistas sem seus plásticos próprios. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que os cartões de lojas cresceram em média 18% em unidades anualmente.
“Agora, os cartões das lojas estão em fase maturação”, diz Wagner Aguado, superintendente executivo da Bradesco Cartões. Dias, da Cielo, concorda. “Hoje há uma saturação. Até cinco anos atrás, ainda havia uma base grande de varejistas para embandeirar, mas hoje as maiores redes já possuem seus cartões”, afirma. Ao mesmo tempo, as promoções que surgiam eram diferenciadas e traziam novidades para os consumidores. De uma hora para outra, os clientes passavam a ter a opção de fazer o cartão da loja e parcelar suas compras, sem juros, em diversas vezes. Muitos clientes, como é o caso de Ana, fizeram um cartão de cada grande varejista.
Com isso, o crescimento dos cartões de redes e lojas superou 20% ao ano tanto em unidades, como em faturamento de 2005 a 2007, segundo dados da Abecs. Mas hoje a situação está diferente. De agora em diante, a previsão é de um avanço próximo ao da indústria, de algo entre 11% e 15%.
Outra razão para essa desaceleração é a uniformização das promoções. As formas de pagamento oferecidas pelas lojas acabaram ficando muito parecidas entre si. Em geral, as varejistas parcelam em cinco vezes sem juros e sem entrada, ou em até 12 vezes com juros. A semelhança também acontece com os pagamentos Visa e Mastercard. Com as grandes bandeiras, muitas vezes os consumidores também conseguem dividir suas compras em diversas vezes, sem juros.
Essa uniformização, por sua vez, é resultado da concentração da emissão dos cartões nas mãos de bancos. No início, as lojas faziam suas emissões internamente. No entanto, aos poucos, passaram a se associar às instituições financeiras. A Bradesco Cartões, por exemplo, hoje é responsável por 24 marcas, incluindo a C&A - líder no País com 25 milhões de unidades - Casas Bahia e Líder. Já a área de crédito e consumo do Itaú Unibanco possui parcerias com 300 varejistas, o que totaliza uma base de 15,8 milhões de clientes. Enquanto os bancos não se especializam no segmento, os produtos oferecidos acabam sendo desenvolvidos de forma parecida.
Outro fator que contribui para a desaceleração dos cartões customizados, segundo executivos, é o fato de as empresas exigirem que os boletos sejam pagos em suas lojas. Um consumidor que faz compras em cinco estabelecimentos diferentes, por exemplo, precisa se organizar bem para controlar todos os pagamentos, o que acaba sendo um desgaste. “As condições não compensam o incômodo de ter que ir até cada loja para pagar a conta”, comenta a contadora Ana Cristina. Assim, aos poucos, os mesmos clientes que nos últimos anos fizeram cartões de diversas redes estão percebendo que não precisam andar com vários plásticos na carteira.
Solução híbrida
Neste cenário, os cartões híbridos despontam como uma solução para o mercado. “É mais fácil concentrar os pagamentos em apenas duas datas de vencimento”, diz Ana Cristina. O consumidor pode ter um plástico da Visa, da Mastercard ou de qualquer outra bandeira por meio de uma loja em que faça compras, sem precisar abrir uma conta em banco.
Aguado, da Bradesco Cartões, diz que já vê sinais claros do processo de transformação de cartões próprios em mistos. “Temos percebido um direcionamento dos esforços para os híbridos, seja no embandeiramento dos atuais, seja em varejistas menores que estão pensando em lançar seu cartão próprio.
Para o consumidor, a mudança permite que ele opte por apenas um cartão de cada bandeira – por exemplo, apenas um Visa e um Mastercard - e utilize os mesmos plásticos em diversos locais. Ao possuir o cartão da Lojas Renner, por exemplo, que já fez a transformação para o híbrido, ele pode financiar suas compras também em outros estabelecimentos.
José Antônio Rodrigues, diretor de crédito e risco da Riachuelo, acredita que a empresa que não fizer o cartão híbrido “estará fadada ao insucesso”. Ele conta que a fatia dos customizados nas receitas da empresa chegou a 75% em 2008, mas hoje está em 55%. “Sou do grupo que acredita que os private label puros já atingiram um ápice e tendem a reduzir suas participações. Agora é a vez das bandeiras”, afirma.
Para as lojas, a mudança traz outras vantagens interessantes, segundo Rubens Fogli, coordenador do Comitê de Private Label da Abecs. “A transformação do private label puro em híbrido acaba dobrando o gasto dos clientes com aquele cartão”, diz. Além disso, quando o cartão é usado em outros locais, a varejista que possui sua bandeira estampada no plástico ganha uma pequena taxa, acrescenta Dias, da Cielo.
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