16 de ago. de 2010

REDECARD FICA DE FORA DAS MAIORES ALIANÇAS

jornal Valor Econômico 16/08/2010 - Aline Lima

A união entre Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil (BB) e Bradesco no mercado de cartões deixou o Itaú, sócio majoritário da Redecard, ainda mais isolado no setor. Na última segunda-feira, 9 de agosto, o anúncio da parceria da Redecard com o Sicredi, Sistema de Crédito Cooperativo, que marcava o fechamento da vigésima aliança pela empresa, passou praticamente despercebido pelo mercado. Nesse mesmo dia, a Caixa Econômica celebrava sua adesão à bandeira elo, recém-lançada por Banco do Brasil e Bradesco, o que coloca o banco estatal automaticamente dentro do raio de ação da credenciadora Cielo, controlada por BB e Bradesco, responsável pelos negócios com a nova bandeira nacional e principal concorrente da Redecard. O memorando de entendimentos inclui ainda a possibilidade de aumento da participação da Caixa na Cielo, hoje de 1,14%.

A instituição da família Setubal buscou novos sócios para não permanecer como único banco acionista da Redecard. Falhou tanto no caso do Santander -que tinha participação na Cielo via Banco Real ABN Amro, mas acabou optando por seguir voo solo - como no caso do HSBC, que firmou acordo com a Cielo para ser sua credenciadora de lojistas preferencial. A Caixa era o último banco relevante que ainda não havia definido um parceiro preferencial e um modelo de negócio.

Segundo fontes do setor, o Itaú mantinha conversas com o banco estatal, mas as negociações não avançaram. A Caixa, inclusive, já processa sua base de 5,2 milhões de cartões na Orbittal, que pertence à Redecard. "A Caixa seria um divisor de águas, até porque a bandeira Hipercard [do Itaú] é o contraponto natural para a elo", observa Boanerges Ramos Freire, da consultoria Boanerges & Cia. Dos bancos que podiam ser considerados independentes em relação às duas credenciadoras que dominam o mercado, a Cielo acabou amealhando todos.

A acirrada disputa entre Redecard e Cielo passa pelo desenvolvimento de estratégias de atuação distintas. A Cielo prefere se concentrar em poucas bandeiras (Visa, Mastercard e American Express), mas de uso intensivo, ao passo que a Redecard tem privilegiado o aspecto quantitativo, fechando acordos com várias bandeiras regionais. Roberto Medeiros, presidente da Redecard, minimiza a polêmica. "Nosso foco são os clientes, e não os concorrentes", afirma. Segundo Medeiros, a forte presença dos cartões Sicredi em Mato Grosso do Sul, por exemplo, ou do Sorocred no interior paulista permite à Redecard ter mais proximidade com o lojista.

Qual estratégia será a mais acertada, só o tempo irá dizer. Analistas de mercado arriscam palpites. "Não tenho recomendação de compra para a ações de nenhuma das duas empresas, mas se tivesse de escolher uma, ficaria com Cielo", diz Laura Lyra, analista da corretora Ativa. A avaliação é de que, num cenário de competição, o banco credenciador precisa ter expressão nacional. Juntos, BB, Bradesco e Caixa Econômica têm maior capilaridade do que o Itaú Unibanco. Além disso, embora a bandeira elo não tenha sido transformada em plástico, ninguém negligencia o potencial dessa tríade de bancos junto à baixa renda, num contexto econômico que é de mobilidade social.

A Redecard tem a seu favor um passado de inovações. A antecipação de receita de pagamentos feitos com cartões para lojistas tem sido seu grande diferencial. No primeiro semestre, cerca de 25% do volume de crédito foi antecipado para os clientes lojistas, valor que chega a quase R$ 14 bilhões. Na Cielo, esse tipo de operação começou no fim de 2009 e envolve apenas 5% do montante movimentado. "Fomos também os primeiros a fazer transações com celular", lembra Medeiros, da Redecard. "Cerca de 11 mil profissionais que trabalham com vendas de porta em porta carregam o celular com um software que passa cartão."

A aposta em diferenciação de serviço é válida, mas, como ressalta a analista Laura Lyra, ganha a preferência do lojista quem nele primeiro chegar. Até porque, vários desses serviços podem ser simplesmente copiados pela concorrência. "No passado, a Redecard foi mais eficiente, inovou e enxugou custos", afirma Laura. "O problema é que ela já atingiu a maturidade. Não vejo como a empresa pode crescer mais."

Porém, apesar de a Cielo ainda ter "gordura para queimar" quando o assunto é custo, Laura desenha um cenário desafiador para ambas as empresas. Com o fim da exclusividade entre credenciadora e bandeira, a concorrência aumenta e, com ela, os custos. "Além das verbas para campanhas de marketing, há uma enorme pressão com gastos de logística. Não se pode mais leva

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