jornal Valor Econômico 15/03/2011 - Janes Rocha
Sistemas públicos de pagamentos estão no alvo do Citigroup e o Brasil está no centro das atenções como um dos mercados de maior potencial de expansão. "Este é um negócio importante para nós e o que mais cresce no banco", disse Filippo Sabatini, chefe global do Citi para a área de setor público. Sabatini está no Rio para participar do seminário Semana de Infraestrutura Financeira 2011, realizado pelo Banco Mundial e sua agência para o setor privado, a International Financial Corporation (IFC).
Operações com governos não são novidade para o Citi, que em seus quase cem anos de presença no país participou em diversos dos projetos mais importantes com o governo brasileiro, desde financiamentos de obras como a hidrelétrica de Itaipu, os metrôs e a ponte Rio-Niteroi, até o programa de desestatização de estatais.
Hoje o foco da área de setor público está nos serviços e consultorias em sistemas de pagamentos e segurança de dados. Uma divisão específica foi aberta no Brasil no ano passado e estão sendo feitos contatos com governos das principais capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte) e com o governo federal para oferta de serviços, explicou Roberto Paolino, diretor da área na filial brasileira.
Um exemplo da atuação do banco é o contrato que mantém com o governo inglês para gerenciamento dos dados da previdência naquele país, garantindo a continuidade do pagamento de benefícios em caso de alguma falha ou emergência que impeça o órgão de pagar os aposentados e pensionistas.
Segundo o executivo, o potencial de negócios no Brasil é crescente, considerando as necessidades do país com programas como identificação digital e segurança de informações, devendo aumentar ainda mais com os eventos mundiais como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
"Queremos partilhar com os governos, bancos centrais e órgãos reguladores, bem como com empresas parceiras algumas das melhores práticas e soluções para as necessidades financeiras entre os governos", afirmou Sabatini.
A Semana de Infraestrutura Financeira do Banco Mundial é um evento realizado a cada três anos e na versão 2011 vai abordar três aspectos: os sistemas de segurança de pagamentos, de classificação de risco de credito ("credit score") e segurança de transações. O mote é uma nova regulamentação sobre classificação de risco de crédito implementada pelo Banco das Compensações Internacionais (BIS), banco central dos bancos centrais, baseado em Genebra. O evento está reunindo no Rio de Janeiro mais de 300 participantes de 92 países e empresas, como Visa, Citibank e Wells Fargo, que montaram estandes no evento para apresentar seus produtos.
Em sua exposição hoje no segundo dia do evento, Sabatini vai falar de emergências financeiras. "Em terremotos, tsunamis, todas as fontes de dados de posições individuais podem se perder. Se não há processos automatizados, em situações de desastre financeiro é muito difícil para um governo ter a visão dos fluxos financeiros e a possibilidade de reconstituir rapidamente o sistema de benefícios por exemplo", disse Sabatini.
O executivo diz que o número de catástrofes naturais, como a tragédia deste fim de semana no Japão e os deslizamentos de terra na região serrana do Rio em janeiro, vêm aumentando nos últimos 30 anos. Mas, a maioria dos países não está preparada para emergências.
As deficiências de infraestrutura financeira são responsáveis em parte pela falta de financiamento para as micro, pequenas e médias empresas, estimada pelo Banco Mundial em US$ 2 trilhões. "Ainda enfrentamos um desafio de inclusão, as pequenas e médias empresas não têm acesso a todos os serviços financeiros de que necessitam", disse Peer Stein, diretor do Conselho de Acesso a Financiamento da IFC, lembrando que a necessidade financeira das empresas não se limita a crédito, envolvendo também poupança, seguros e meios de pagamento.
Segundo Stein, pesquisa realizada no ano passado pelo Banco Mundial em 130 países apontou que 70% de todos os empreendimentos estavam deficientes em crédito.
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