jornal Valor Econômico 05/10/2011 - Aline Lima
Claudio Belli/Valor/Claudio Belli/Valor
Jatobá, da Visa: taxa que remunera banco em pré-pago supera a do débito
Ao fechar contrato com o Banco do Brasil (BB) para a emissão de cartões recarregáveis em reais, a Visa conseguiu quebrar uma importante barreira para a exploração do segmento de pré-pagos no país. E foi com o apelo do preço, combinado ao seu legado tecnológico, que a bandeira internacional tem agora a chance de chegar a uma das maiores bases de clientes do mercado bancário brasileiro.
O produto que acaba de ser lançado pelo BB em parceria com a Visa, aliás, tem potencial para atingir não só clientes do banco estatal mas também milhões de indivíduos hoje sem uma conta corrente, os chamados "não-bancarizados". O cartão Ourocard Pré-Pago Visa pode ser solicitado em nome de qualquer pessoa definida pelo correntista do banco, servindo tanto para a mesada dos filhos como para o pagamento da faxineira, por exemplo.
O BB espera vender um milhão de cartões pré-pagos somente no primeiro ano de atuação. Além da escala que a Visa pode ganhar no segmento de pré-pagos, o acordo fechado com o maior banco do país tem sabor especial de vitória. Afinal, o Banco do Brasil é sócio do Bradesco tanto no cartão Elo - projeto de bandeira nacional para concorrer com as marcas internacionais dominantes Visa e MasterCard - como nos vouchers refeição e alimentação Visa Vale, segmento de pré-pago mais antigo no Brasil.
A Visa também já manteve conversas com a Caixa Econômica Federal (CEF) para distribuir os recursos do Bolsa Família por meio de pré-pagos, sem sucesso.
Segundo Raul Francisco Moreira, diretor de cartões do BB, o banco pretende lançar um cartão pré-pago com a bandeira Elo, mas não tem prazo definido. "É um processo gradativo, precisa entrar na fila do desenvolvimento tecnológico", diz ele. Para Percival Jatobá, diretor de produtos da Visa do Brasil, a experiência da bandeira no segmento de pré-pagos e a força da marca pesaram na escolha do banco. "O BB conseguiu antecipar uma tendência e, ao mesmo tempo, evitar incorrer em algum erro", observa Jatobá.
A taxa de intercâmbio, que remunera o banco emissor do cartão, é outro atrativo. A Visa definiu uma tarifa (repassada pela adquirente, empresa responsável por capturar, processar e liquidar as transações) de 1,20% sobre as transações com pré-pagos. A taxa é superior àquela estabelecida para os cartões de débito (0,84%) e até para as operações com o cartão de crédito "classic", o mais básico de sua prateleira (1,11%). "A estratégia de desenvolver o segmento de pré-pagos passa, sim, pela taxa, mas ela é um dos componentes", ressalta Jatobá.
Os cartões recarregáveis para pagamentos diversos são uma das principais fronteiras do mercado de pré-pagos a serem exploradas no país, dado seu potencial de faturamento. Não existem dados oficiais sobre o setor, mas o diretor de cartões do BB estima, a partir de dados do BC e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que todas as modalidades de pré-pago devam movimentar, neste ano, recursos da ordem de R$ 30 bilhões - a maior parte relativa ao Programa de Amparo ao Trabalhador (PAT), distribuída por meio de vouchers alimentação e refeição.
"Embora o volume de transações com o produto vale alimentação venha crescendo junto com o aumento do emprego formal, seu desempenho é relativamente limitado porque cabe à empresa carregar o cartão do funcionário com um valor específico mensalmente, e não à pessoa física, a qualquer hora que ela quiser", explica Moreira.
Outro produto que vem ganhando adeptos no mundo dos pré-pagos é o cartão internacional para viagem, recarregável em moeda estrangeira, principalmente após o aumento do IOF sobre compras no cartão de crédito no exterior. O BB lançou o seu no início deste ano em parceria com a Visa e, de lá para cá, emitiu 200 mil plásticos. O segmento de pré-pagos de viagem eram praticamente cativo da Visa, que lançou o produto em 1996. Este ano, porém, seus concorrentes MasterCard e American Express também apresentaram seus cartões aos brasileiros.
Os R$ 30 bilhões que deverão ser movimentados por meio de pré-pagos este ano no país equivale a pouco mais de 1% do consumo privado das famílias. Pelas projeções do diretor de cartões do BB, até 2020 esse volume deve responder por 10% do consumo das famílias.
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