jornal Brasil Econômico 29/09/2011 – Carolina Pereira
Enquanto o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, fala constantemente sobre a intenção de atrair a produção de semicondutores para o Brasil, uma pesquisa global da KPMG, feita com 118 altos executivos das maiores empresas do setor, mostra que 92% dos entrevistados esperam expansão de negócios em suas empresas em2010mas o Brasil não está na rota das novas fábricas. “São investimentos muito altos, da ordem de US$ 3,5 bilhões e que dependem de parceria público-privada para atrair capital”, diz Jarib Fogaça, sócio da KPMG e um dos responsáveis pelo estudo.
Os semicondutores são componentes essenciais para a fabricação de computadores e outros eletrônicos mas atualmente não há produção no Brasil. O valor de importação no país foi de US$ 4,4 bilhões em 2010, aumento de 33% em relação a 2009, quando o total foi de o US$ 3,3 bilhões. Segundo a KPMG, a expectativa é que o crescimento da demanda local por chips seja duas vezes maior que o crescimento do setor de eletroeletrônicos. Uma projeção reforçada pelas expectativas da Associação Brasileira da Indústria de Elétrica e Eletrônica (Abinee), que prevê um crescimento de 13% para este segmento.
Apesar de ser o produto eletroeletrônico mais importado pelo país, os projetos de produção local ainda são escassos e seriam insuficientes para suprir reverter o déficit na balança comercial. A principal iniciativa é o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), empresa pública federal ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que já consumiu R$ 500 milhões desde 2008 mas que ainda não iniciou a produção.
A alta carga tributária e a escassez de mão-de-obra qualificada estão entre os principais motivos para que o país não seja interessante para a fabricação de semicondutores. A Intel, por exemplo, já chegou a incluir o Brasil em uma lista de opções para novos investimentos na década de 90 mas, no fim das contas, optou pela Costa Rica, basicamente por conta dos incentivos oferecidos. “Se o Brasil não criar condições para a indústria, como fez com o tablet, o governo não vai conseguir atrair a produção de chips”, diz Fogaça.
Parceria
A Toshiba já investiu US$ 4 milhões no design de chips no Brasil neste ano e cogita utilizar o Ceitec para a produção local dos chips da empresa. “O Japão é um candidato forte, mas vamos fazer uma análise técnica junto ao Ceitec para verificar a viabilidade da parceria”, afirma Ciro Rosa, diretor da STI Semiconductor, empresa resultante da parceira entre a Semp Toshiba e a Toshiba Semiconductors Corporation. Hoje, as fábricas da empresa estão concentradas na Ásia.
A expectativa do presidente do Ceitec, Cylon Gonçalves da Silva, é que os primeiros chips saiam da fábrica brasileira ao longo de 2012, por conta do acordo com a alemã Xfab. Em 2007, o Ceitec e a Xfab firmaram acordo de transferência de tecnologia que, segundo Silva, já está em andamento.
O foco do Ceitec é a produção de chips de identificação, como o chamado brinco do boi para rastreamento de gado. “Somos relativamente pequenos, se não nos concentrarmos em uma área corremos o risco de não sobreviver", afirma Silva.
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