jornal DCI 03/10/2011 - Marcelle Gutierrez
Até agosto, o índice de inadimplência geral ficou em 5,3%, de acordo com dados do Banco Central, o que significa o maior patamar desde janeiro de 2010, quando ficou em 5,5%. Em pessoa física, o calote chegou a 6,7% e em empresas elevou para 3,9%. No entanto, o mercado considera os valores sob controle por conta da contínua elevação do crédito. Mesmo diante de um cenário estável, os bancos investem em estratégias de recuperação de crédito para manter a qualidade da carteira, evitar perdas com provisão e preservar o relacionamento com o cliente. Nos primeiros seis meses de 2011, o Banco do Brasil conseguiu recuperar 34,1% da carteira contabilizada como perdas, de 1,4% do total, o que corresponde a R$ 1,8 bilhão.
Segundo o gerente-executivo do Banco do Brasil, Milton Telles, a cobrança de empréstimos com longo período de atraso consiste em um modelo para manter a carteira equilibrada, além de preservar o capital da instituição financeira e relacionamento com os clientes. "Primeiro ponto é o relacionamento, porque toda empresa almeja um cliente ativo. Também pretendemos preservar a qualidade da carteira para evitar novos reforços de provisionamento [conhecido como PDD], que tem grande importância na formação do resultado do banco", disse Telles durante o 5º Congresso Nacional de Recuperação de Crédito, realizado pela Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc).
O executivo ainda acrescenta que há uma tendência no Brasil de queda do spread bancário, o que pode ser compensado pela cobrança de perdas. "Para nós continuarmos a ter um nível de rentabilidade adequado, que os acionistas esperam, vamos ter de aprimorar os processos, porque a margem vai diminuir. Então, tem de perder menos com o crédito não recuperado."
Dentro das estratégias definidas pelo BB, Milton Telles revela que o diferencial está na terceirização de 70% dos clientes inadimplentes em 100 assessorias de cobrança, que são encaminhados após 60 dias de atraso, em média. "Sempre com investimentos em tecnologia e informação, adotamos modelos estatísticos e estratégias diferenciadas de acordo com o perfil do cliente ou grupo. Ao todo, temos 54 estratégias diferentes". Telles ainda conta que os clientes com tíquete médio superior a R$ 200 mil são conduzidos para escritórios do banco especializados em cobrança.
Os clientes são divididos em grupos, como massificados, não correntistas, veículos e imobiliário, no qual é realizado o processo de envio de carta de cobrança de todas as operações vencidas, bloqueio do limite de crédito, restrições internas e externas, além da utilização do call center. "Até 2006, o nível de inadimplência era superior ao mercado. Com as melhorias de originação de crédito e recuperação, passamos a ficar abaixo. Agora, a inadimplência de 15 dias é menor do que a de 90 do mercado. Está é uma vitória enorme da área de crédito e empresas de cobrança", diz o gerente do BB, que finaliza. "Hoje temos o menor índice de inadimplência, menor nível de envio para perdas e maior de recuperação".
As operações vencidas acima de 90 dias da instituição chegaram a 2% no primeiro semestre de 2011, queda de 0,7 ponto percentual (p.p.) na comparação com junho de 2010 e de 0,1 p.p ante março deste ano.
Para o diretor-executivo da Aserc, Vicente de Paula Oliveira, ao definir um modelo de operação de cobrança de dívidas, o banco obtém retorno de recursos e da pessoa como sujeito de crédito. "Com a terceirização, este objetivo é alcançado de maneira mais eficaz. Assim pode centrar na operação fim, que é conceder crédito. Então é benéfico porque centra em seus negócios e deixa para nós a tarefa mais difícil".
O presidente da Aserc, José Roberto Romeu Roque, concorda que a principal atividade é o empréstimo e que o calote é um caso indesejado. "Nosso trabalho está em entender porque a pessoa inadimpliu e fazer a intersecção com o cliente para tratar da melhor forma. É reenquadrar o devedor em um determinado perfil".
No que se refere às principais estratégias adotadas pelas instituições financeiras na cobrança de perdas, o presidente da Aserc revela que depende da faixa de atraso. "Quando são curtos, ofertam uma posição em outro produto ou alongam os prazos. Nos mais longos, no qual muitas vezes o contratante não quer mais aquela pessoa como cliente, há os modelos de desconto e maiores prazos de pagamento".
Roque também é diretor da Audac, companhia de crédito e cobrança. Segundo ele, a empresa possui mais de 40 clientes corporativos, com análise de 6 milhões de pessoas e recuperação de mais de R$ 50 milhões de reais todos os meses para instituições financeiras, redes varejistas e companhias de energia. Em 2010, a Audac devolveu cerca de R$ 1 bilhão ao mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário