11 de set. de 2011

JURO DO CARTÃO INCOMODA MAIS NOS EUA QUE NO BRASIL

jornal Brasil Econômico 08/09/2011 – Flávia Furlan

Brasileiros e americanos se comportam de forma distinta quanto ao uso do cartão de crédito. Um dos aspectos que marcam esta diferença diz respeito aos juros, que incomodam mais os consumidores dos Estados Unidos, mesmo com as elevadas taxas cobradas no Brasil.

Uma pesquisa realizada pela empresa de serviços e tecnologia de marketing Acxiom, com 3 mil americanos que representam um potencial de US$ 700 bilhões em transações com cartões anuais, revela que um terço deles (33%) analisa a taxa de juro na hora de escolher um plástico e trocaria de forma de pagamento por descontentamento com o quesito.

De acordo com Eduardo Ramalho, diretor de desenvolvimento de negócios da Acxiom Brasil, os americanos são atraídos por um plástico por conta dos benefícios que oferece, a anuidade cobrada, a conveniência e, também, pela taxa de juros. Isso acontece, segundo Ramalho, porque nos Estados Unidos o crédito se inicia (e portanto a incidência de juro) a partir da data da compra, enquanto no Brasil os usuários do cartão têm até 28 dias para efetuar o pagamento da fatura sem nenhuma cobrança.

“Para os brasileiros, o principal atrativo de um cartão é a possibilidade de postergar e programar o pagamento de uma conta para uma data fixa mais apropriada, o que vem da memória de um longo período com inflação no Brasil, e a facilidade no parcelamento das despesas, resultando em aumento do poder de consumo”, explica.

Entre os brasileiros, as taxas de juros têm uma posição menos relevante para a escolha de um cartão. Tanto é que ela é analisada por 21% dos portadores para se indicar o plástico a outros consumidores. O dado é de uma pesquisa realizada pela empresa de análise de dados de meios de pagamento CardMonitor e o Instituto Medida Certa com cerca de 12,2 mil usuários de cartões, entre bancários, híbridos e private label (cartão de loja).

O índice de insatisfação no quesito taxa de juros é de menos da metade dos entrevistados (45%). Há diferenças de satisfação por faixa de renda. Enquanto os mais ricos apresentam insatisfação alta (de 53% do total de entrevistados), a minoria da baixa renda se incomoda com o quesito (32%dos entrevistados).

E isso ocorre mesmo com os juros cobrados do cartão do Brasil sendo altos em relação a outros países e a outras formas de pagamento. Dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que os juros médios cobrados da pessoa física no cartão de crédito ficaram em 10,69% ao mês (rotativo) em julho. Nos Estados Unidos, eles vão de zero a 1,5% ao mês.

De acordo com o coordenador de estudos econômicos da Anefac, Miguel de Oliveira, os americanos se sentem mais incomodados com os juros no cartão porque as taxas de outras modalidades de crédito são ainda menores. “No Brasil, as pessoas se acostumaram a pagar a taxa alta para ter o dinheiro na hora. A baixa renda, por exemplo, só vê se a parcela cabe no bolso”, compara.




Benefícios

O que diferencia também a relação com o cartão entre americanos e brasileiros é que os cidadãos dos EUA usam mais o plástico e a maioria das lojas do país emite os cartões com programas específicos de bonificação. Já entre os brasileiros o relacionamento se dá mais com cartões emitidos por bancos. Desta forma eles podem usufruir de maiores benefícios, inclusive o aumento do poder de compra baseado no crédito. No Brasil, a prática de programas de fidelidade ainda não está consolidada.

“O consumidor brasileiro percebe o cartão de crédito e débito mais como facilitador de pagamento e alternativa de crédito do que como uma fonte de benefício extra”, pondera Ramalho, da Acxiom.

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