11 de set. de 2011

CITI QUER ESQUECER O PASSADO E VALORIZAR SEUS PONTOS FORTES

jornal Valor Econômico 06/09/2011 - Carolina Mandl e Vanessa Adachi

"Lo pasado, pisado." É com essa expressão em espanhol - equivalente a algo como "o que passou, passou" - que o uruguaio Gustavo Marín, presidente do Citi Brasil desde 2001, responde à recorrente pergunta sobre o fato de o banco de capital americano não ter participado do processo de consolidação bancária no Brasil nas últimas duas décadas.

Com vontade de deixar o passado para trás, o Citi quer fortalecer sua operação no Brasil com aquilo que Marín considera já serem suas "fortalezas" no país: os cartões de crédito com as marcas Citi e Credicard, o varejo para a classe A, o banco de investimento e o atacado, incluindo a área de transações e mercados. Nada de muitas novidades.

Recuperado da crise financeira de 2008, quando passeou pela beira do abismo, o Citi colocou seu foco global nos países emergentes. Diversos ativos na Europa e nos Estados Unidos foram colocados à venda para direcionar mais recursos aos ainda chamados países em desenvolvimento.

O Brasil, no entanto, não deve receber um grande investimento da matriz. Segundo Marín, a estratégia por aqui tem sido a de reinvestir os lucros apurados.

De janeiro a junho deste ano, o conglomerado do Citi no Brasil, que inclui o banco e a Credicard, lucrou R$ 1,2 bilhão, contra R$ 232,5 milhões em igual período de 2010. Boa parte do resultado deste ano veio da ativação de créditos tributários, o que somou R$ 844,2 milhões ao resultado do último semestre. O banco está com folga de capital no país, com um índice de Basileia - que indica a capacidade de alavancagem - de 16,29%, acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central.

Com os recursos reinvestidos no Brasil, Marín pretende fortalecer principalmente as operações voltadas para o varejo, o que inclui a Credicard. Hoje responsável por cerca de 60% da receita do grupo, o varejo ainda não tem uma posição tão marcante no resultado, de acordo com o executivo. A meta é fazer com que essa operação alcance 50% do lucro em cinco anos.

O grupo separou o varejo em dois segmentos para conseguir cobrir um público mais amplo. Com a marca Citibank, atende as classes A e B. "É a marca de aspiração das pessoas", diz Marín.

Já com a Credicard, o Citi consegue ir além do que a sua restrita rede de agências permitiria, atendendo todas as faixas da pirâmide social com produtos como cartão de crédito e empréstimos pessoais oferecidos por meio de 110 lojas e por canais eletrônicos.

Em vez de abrir centenas de lojas de rua, o Citi tem preferido atrair a atenção do consumidor via comunicação em meios de grande exposição. Um dos principais canais de atração, diz o executivo, tem sido o programa dominical do apresentador Faustão, que fala sobre os produtos da marca. "Não precisamos desenvolver uma rede física muito grande para crescer. Hoje 75% dos negócios fechados pela Credicard são feitos eletronicamente. As pessoas se sentem constrangidas de pedir dinheiro para o gerente do banco", avalia Gustavo Marín.

Em outra ponta, o banco também está investindo na contratação de pessoal. Em março, o executivo André Kok (ex- Itaú BBA e UBS) chegou para chefiar o chamado "global banking" do Citibank. Para incrementar os negócios com as empresas, o Citibank está integrando no mundo inteiro as áreas de banco de investimento com o segmento "corporate", que atende as necessidades bancárias das grandes companhias. Kok é o diretor dessa nova área integrada.

O segmento de banco de investimento estava desassistido desde meados de 2009, quando o executivo Ricardo Lacerda deixou a instituição. Cerca de 25 pessoas completam o time da área de "investment banking".

O Brasil também quer tirar mais proveito da rede de clientes que o Citi concentra pelo fato de estar presente em 110 países. "Queremos conquistar mais multinacionais, incluindo aquelas brasileiras que estão surgindo", diz Marín.

Por ora, além de fortalecer os negócios, o executivo enxerga uma oportunidade para desenvolver uma empresa para captura, processamento e liquidação de transações com cartões, o chamado ramo de adquirência, hoje liderado pelas empresas Cielo e Redecard. Em dezembro, o Citi anunciou uma parceria com a americana Elavon. "O mercado todo deseja concorrência", avalia Marín.

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