jornal DCI 27/06/2011 - Marcelle Gutierrez
As medidas macroprudenciais de contenção da inflação, que consistem em aumento da taxa básica de juros (Selic) de 12,25%, elevação dos depósitos compulsórios e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), já se refletem diretamente no financiamento de veículos, o que ocasiona a redução do ritmo de crescimento das vendas. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nos primeiros 20 dias de junho houve queda de 5% na comparação com o mesmo período de maio. Para 2011, a projeção de crescimento era de 20% até março, mas foi reajustada para 5%. Segundo analistas, a redução de prazos, o aumento do valor da entrada e a avaliação mais criteriosa por parte das instituições financeiras justificam a redução.
Segundo o Banco Central, o crédito para aquisição de veículos por pessoa física (PF) corresponde a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e a 32,7% do total do crédito destinado a PF em abril. No saldo total, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) totalizou R$ 151,77 bilhões em abril, acréscimo de 1,7% em relação ao mês anterior, de R$ 149,29, o que reforça a redução do ritmo de crescimento, já que no período anterior, de outubro a novembro, a elevação foi de 4,70%, de R$ 130,1 bilhões para R$ 136,2 bilhões.
O número de concessões acumuladas em relação a março de 2011, de acordo com o Banco Central, caiu 5,2%, de R$ 8,08 bilhões para R$ 7,66 bilhões. No ano, a queda foi de 31,1%.
O diretor de Relações Institucionais da Anfavea, Ademar Campelo, confirma que as medidas para reduzir o consumo se refletem no setor automotivo por causa do aumento da taxa de juros, IOF e compulsório, que retirou recursos do mercado. "Até março a projeção vinha com dois dígitos, e agora está com um. Nesse setor houve um delay [atraso] para os efeitos começarem a ser sentidos, mas já percebemos que mês a mês o ritmo de crescimento das vendas diminui."
Na comparação com abril de 2010, as taxas de juros mensais aumentaram de 1,78% para 2,27% em abril deste ano. Já as taxas anuais saltaram de 23,53% para 30,88% no mesmo período, apontou a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). "Para desacelerar a economia, o governo aumenta os juros e impacta diretamente no financiamento para manter o spread bancário. O reflexo em veículos é maior, porque a garantia de quitação da dívida é diferente de outras linhas, como o consignado.
Por esse motivo, os bancos elevam as taxas de juros de carteiras de maior risco", explica Orlando V. Sampaio Jr, professor de Administração da ESPM.
A diminuição dos prazos é apontada como uma das causas da redução do ritmo de crescimento da venda de automóveis pelo professor da Anhembi Morumbi, José Carlos Polidoro. "O financiamento de veículos foi o mais atingido. O prazo médio caiu de 45 meses, antes das medidas macroprudenciais, para 35 meses, segundo o BC. Com isso, o valor médio das prestações subiu 20% e também aconteceu o aumento do valor da entrada obrigatória", pontua Polidoro, que acrescenta: "O brasileiro tem a cultura de tomar a decisão de acordo com o valor da parcela".
Os planos máximos disponibilizados aos consumidores para a compra foram reduzidos de 80 meses em abril do último ano para 60 meses no mesmo período de 2011, segundo a Anef.
No que se refere às modalidades de pagamento, os financiamentos continuam com a maior participação, de 49%. Em seguida, aparecem as compras à vista, 39%, e consórcios e leasing, ambos com 6%, aponta a Anef.
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