jornal Estado de Minas 17/06/2011 - Marinella Castro -
As dívidas no cartão de crédito ocupam, de longe, a primeira posição na inadimplência do consumidor de Belo Horizonte e fisgam principalmente as mulheres das classes C e D, que têm assumido o posto de chefes de família. Os gastos no cartão são responsáveis por 50,4% da inadimplência, medida pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH). Na lista de produtos que aumentam o peso do calote, as roupas aparecem em primeiro lugar com 18%, seguidas pelos eletrônicos (12,7%) e os serviços de água, luz e telefone (11,2%).
Com juros de mais 200% ao ano, as dívidas no cartão estão sufocando principalmente as classes mais baixas – quase 70% dos endividados recebem de um a três salários mínimos. O descontrole empurrado pela compra de vestuário, segundo Ana Paula Bastos, economista da CDL-BH, pode ser explicado pelo novo arranjo da sociedade. “Como chefe do grupo, a mulher se torna responsável por vestir toda a família, dos filhos ao marido”, avalia.
A pesquisa da CDL também aponta que o comprometimento financeiro com valores acima de R$ 500 atinge 68% dos consumidores, deixando bem distante o segundo colocado, que são as dívidas entre R$ 250 e R$ 499 – 14,3% da população entrevistada. Para o professor e especialista em finanças Paulo Vieira o maior descontrole nas classes mais baixas se deve à combinação de crédito farto, melhoria da renda e falta de educação financeira para lidar com o cartão de crédito.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), apontam que em abril eram 648 milhões de cartões no país, para uma população de 190 milhões de brasileiros, o que pode ser uma armadilha, na opinião de Vieira. Ele alerta que o ideal é que cada consumidor tenha um, no máximo dois cartões de crédito, a fim de calcular bem o seu fluxo. “O consumidor só deve contratar cartões que consiga controlar com eficiência, ter cuidados com ofertas que vão além de sua necessidade.”
Oferta
Apesar de sofrer na pele com a inadimplência que encarece o dinheiro e freia o consumo, o varejo é um dos campeões na oferta de cartões. Seja nas lojas de departamento, nos magazines ou no supermercado: “É muito fácil fazer um cartão, facílimo. Atualmente, tenho quatro. Em um deles tive que negociar a dívida e cancelar”, conta a dona de casa Gildete Almeida, de 48 anos. Na faixa de idade dos que estão com maior comprometimento da renda, ela explica que depois que pagou juros altos por uma dívida, aprendeu a lição: “Agora uso meus cartões com muita cautela. É muito fácil comprar, por isso é preciso ter cuidado”, considera.
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