22 de jun. de 2011

BANCO DE MONTADORA CONTORNA RESTRIÇÃO

jornal Valor Econômico 21/06/2011 - Aline Lima e Adriana Cotias

Com mais margem de manobra do que as instituições que operam com crédito consignado, os bancos de montadora que financiam veículos têm conseguido manter o ritmo da oferta de empréstimos em alta nos primeiros meses de 2011. Para se adequarem às novas regras estabelecidas pelo Banco Central (BC), essas instituições financeiras têm exigido valores de entrada maiores nos financiamentos, de forma que o requerimento de capital permaneça em 11% do valor da operação. Caso contrário, a exigência aumenta para 16,5%, conforme a nova regra, e é repassada para a taxa de juro.

A liberação de recursos para a compra de automóveis por bancos de montadoras no primeiro quadrimestre foi 23% superior em relação ao mesmo período de 2010, segundo a Associação Nacional de Empresas Financeiras de Montadoras (Anef).

Mas o mercado como um todo não consegue manter o mesmo ritmo que as instituições ligadas às fabricantes de veículos. Os dados do Banco Central, mostram que em abril as concessões diárias na modalidade de veículos caíram 16,6% em relação a dezembro.




"Tivemos um desempenho muito bom no mês de maio, inclusive por conta do número de dias úteis", adianta Cezar Augusto Janikian, superintendente de veículos usados da Santander Financiamentos. "E o segundo semestre, historicamente, tende a ser melhor do que o primeiro", completa. O Santander tem um dos maiores índices de Basileia do mercado, com sobra de capital.

Embora a maior alocação de capital dos bancos - no caso dos financiamentos cuja entrada esteja abaixo dos valores mínimos estipulados pelo BC, que variam de acordo com o prazo da operação - comece a valer a partir de julho, muitos começaram a se adequar já em dezembro, quando o BC anunciou as novas regras. Mesmo os bancos que foram pouco atingidos pelas medidas correram para ajustar suas políticas comerciais.

No banco Mercedes-Benz, por exemplo, em que cerca de 80% das financiamentos são de bens de capital (caminhões), feitos por meio do programa BNDES Finame, um dos contratos relativos a crédito ao consumo foi adaptado, de forma que o prazo não ficasse superior a 24 meses. Os demais já estavam com entrada entre 20% e 30%, nos diferentes prazos. As vendas de automóveis (vans) cresceram 36% entre janeiro e maio - 372 unidades em 2011 ante 273 no ano passado.

O banco Mercedes-Benz está com índice de Basileia pouco abaixo de 14%. Segundo Angel Martínez, diretor comercial do banco, com essa liquidez é possível chegar até fim do ano com relativa tranquilidade. "Mas não vamos deixar para fazer isso na última hora e, no terceiro trimestre, devemos fazer um aumento de capital, mas ainda sem valor definido", diz. O executivo acrescenta que as medidas macroprudenciais não vão afetar as atividades do banco. "A maior prova disso é que nossa área comercial vai praticamente dobrar, de 81 para 156 funcionários até janeiro de 2012."

Dos cerca de 50 mil contratos fechados por ano no banco Toyota, metade se refere a financiamentos com prazo inferior a 36 meses. A outra metade é praticamente toda composta por financiamentos entre 36 e 48 meses. "Nosso cliente não demanda financiamento de 60 meses", diz Luiz Montenegro, presidente do banco. Ainda assim, a instituição tem feito um esforço maior para manter o volume, dada a concorrência acirrada.

Na financeira Renault e na Leasing Renault, braços de financiamento das marcas Renault e Citröen no Brasil, não se fala em reduzir o ritmo de crescimento da carteira neste ano. Segundo Alain Gerard Ballu, principal executivo no país da operação financeira, as projeções são de uma expansão de 30% neste ano, enquanto o setor trabalha com uma estimativa entre 5% e 10%. "As duas empresas juntas têm um nível de capitalização de 30%, o que dá folga para crescer nesse ritmo."

Nos primeiros meses do ano, a participação do banco das duas marcas nas vendas saltou a 39,5%, em comparação aos 35,7% observados ao longo do ano passado. O executivo conta que desde as medidas de restrição ao crédito impostas pelo BC, não houve alteração no modelo de aprovação de crédito, que já era mais conservador no segmento de veículos populares e nas classes de renda consideradas de maior risco - que se financiam a prazos muito longos, acima de 36 meses, e sem dar nenhuma entrada.

Nenhum comentário: